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Human Rights Watch critica tortura e execuções por mercenários russos na República Centro-Africana

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A ONG Observatório dos Direitos Humanos (Human Rights Watch, HRW) exigiu hoje uma investigação às alegadas torturas e execuções sumárias na República Centro-Africana (RCA) cometidas por mercenários privados russos da Wagner.

"O Tribunal Penal Especial ou o Tribunal Penal Internacional deviam investigar estes incidentes, assim como outras acusações credíveis de abusos por parte de forças ligadas à Rússia", diz o HRW num comunicado divulgado hoje, citado pela agência espanhola de notícias, a Efe, no qual denunciam também ataques cometidos contra civis desde pelo menos 2019 por este grupo de segurança privado ligado ao governo da Rússia.

O relatório do HRW é baseado em entrevistas e testemunhos recolhidos pela própria organização na RCA, que parecem comprovar a tese defendida por vários governos e organizações ocidentais relativamente às ações deste grupo de segurança privado com ligações ao Kremlin e que opera neste país africano.

"Há provas convincentes de que forças identificadas como russas que apoiam o Governo da RCA cometeram abusos graves contra civis gozando de completa impunidade", escreve a diretora para as crises e conflitos na HRW, Ida Sawyer.

O fracasso das autoridades na altura de denunciar, identificar e perseguir os responsáveis vai alimentar a prática destes crimes "em África e noutras regiões", acrescentou a ativista, vincando que "o governo da RCA tem todo o direito de pedir assistência internacional em segurança, mas não pode permitir que forças estrangeiras matem e abusem de civis com impunidade".

A RCA está mergulhada num cenário de violência sistémica desde 2012, quando uma coligação de grupos rebeldes de maioria muçulmana ganhou o controlo de Bangui, a capital, e derrubou o presidente François Bozizé, dando lugar a uma guerra civil.

Apesar da assinatura de um acordo de paz em 2019 e de um cessar fogo unilateral desde outubro de 2021, dois terços deste país rico em diamantes, urânio e ouro está controlado por milícias e, segundo a ONU, quase 700 mil pessoas abandonaram as suas casas devido à violência.

Segundo a HRW, que cita relatórios da ONU, desde agosto de 2018 que o grupo Wagner está presente no país, com mais de mil "instrutores" que a França diz serem parte de uma campanha "anti-francesa" que decorre quer neste país, quer noutras nações africanas onde estes militares operam.