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Pobreza de espírito!

No passado dia 18 de maio debateu-se a problemática da pobreza na Região Autónoma da Madeira, num debate potestativo, com a presença da Sra. Secretária Regional da Inclusão Social e Cidadania, Dra. Rita Andrade. Um debate que se pretendia que fosse esclarecedor sobre a realidade social que afeta mais de 72 mil pessoas que se encontram em risco de pobreza ou exclusão social e mais de 22 mil em situação de privação material severa. Dados apresentados pelos estudos e estatísticas realizadas por entidades conceituadas, como sejam o Instituto Nacional de Estatística (INE) e a Direção Regional de Estatística da Madeira (DREM) e com base em critérios e indicadores bem definidos, que se aplicam, igualmente, em todo o território nacional. Mas na perspectiva da sra. secretária, uma forma de baixar a taxa de risco de pobreza e a taxa de privação material severa na Região, era alterar os indicadores de medição destas taxas e o problema estava resolvido! Não interessa que as pessoas continuem em risco de pobreza! Mas o problema da alta taxa de pobreza ficaria resolvido!

A sra. secretária, após ter elogiado e louvado (só visto!!!) o trabalho do Governo Regional em matéria de combate à pobreza, brindou-nos com um momento de humor ao afirmar que “devíamos todos estar agradecidos pelo trabalho do governo”. E, disse ainda que o perfil da pessoa em situação de pobreza na Região, consta detalhadamente das estatísticas! Contudo, desconhece a sra. secretária que uma das medidas da Estratégia Regional de Combate à Pobreza na RAM (elaborado com o contributo do Juntos Pelo Povo) é o de estudar e fazer o diagnóstico das pessoas em situação de risco de pobreza ou de exclusão social. Ou seja, a verdade é que não sabemos “quem são” as pessoas e famílias em situação de risco de pobreza na RAM.

Curioso foi a Sra. Secretária ter afirmado que um dos indicadores para a medição da taxa de privação material severa é a capacidade para pagar, anualmente, 5 dias de férias fora de casa, e que ela própria, com um agregado familiar composto por 5 pessoas, não consegue cumprir este requisito!

Hilariante foi a intervenção de uma deputada do PSD, médica de profissão, que assumiu uma posição contra os apoios sociais das autarquias locais aos seus munícipes, para ajudar a pagar cirurgias e exames. Insurgiu-se contra o facto de as autarquias ajudarem as pessoas doentes, com dificuldades económicas e financeiras, a resolverem os seus problemas de saúde! Prefere a Sra. deputada que as pessoas doentes continuem em lista de espera, a aguardar anos e anos - com um possível agravamento dos seus problemas de saúde - à espera que o Serviço Regional de Saúde dê resposta. Ignora a Sra. deputada que estão por cumprir e em lista de espera 118 mil atos médicos! Que estão em lista de espera mais de 50 mil exames complementares de diagnóstico e exames imagiológicos! Que dezenas de milhares de pessoas esperam e desesperam, há anos e anos, por uma cirurgia!!!

No encerramento do debate, ainda houve tempo para mais um momento de humor, quando a sra. secretária afirmou que os deputados da oposição revelaram uma “pobreza de espírito”! Realmente, tendo em conta as afirmações da senhora secretária ao longo do debate e de certas deputadas da maioria PSD/CDS, facilmente se conclui quem foram aqueles ou aquelas que revelaram uma pobreza de espírito!