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Só obras de milhões…

Em 2023, vamos ter mais umas eleições regionais! Desta vez, sim ou não? Cada povo tem o que escolhe!

Através dos órgãos de comunicação social, tenho tomado conhecimento da vontade do nosso Governo Regional em construir, reconstruir, recuperar, implementar obras e mais obras de muitos milhões de euros. É investimento que gera postos de trabalho, cria e/ou melhora os equipamentos sociais de que todos nós, uns mais do que outros, madeirenses e turistas que nos visitam, irão beneficiar e/ou desfrutar.

Mas preciso desabafar uma situação que se arrasta há muitos, muitos anos e que, alguns responsáveis governamentais já me garantiram, inúmeras vezes, que: “Agora, sim!”.

E a verdade é que até agora, NÃO!

Conheci a Repartição de Finanças da Calheta nos anos 60 do século passado. Umas instalações com condições dignas de quem para lá precisava se deslocar e dignas para quem lá trabalhava!

Nos anos 1973 e 1974, fui funcionário da Câmara, com a responsabilidade pela sua contabilidade. Em consequência, porque a secretaria da Câmara era no piso superior, regularmente, deslocava-me à Tesouraria para confrontar os valores “contabilizados” na secretaria da Câmara com os valores entrados na Tesouraria das Finanças que acumulava o serviço camarário de tesouraria.

Nessa altura, com muito menos burocracia de que hoje, as instalações apresentavam 1) altos balcões onde se atendia o público e que eram encimados por um separador em vidro translúcido, com guichets; 2) um quadro de pessoal com cerca de uma dezena de pessoas; 3) o aspecto geral das instalações, por dentro e por fora, inspiravam dignidade institucional.

Hoje: 1) aos mais que decrépitos balcões, retiraram-lhes – e bem - os vidros separadores que os encimavam; 2) o pessoal foi reduzido a metade; 3) sessenta anos de utilização desgastaram a dignidade das instalações!

Em 2019, numa louvável iniciativa de sensibilização para a cidadania fiscal, os responsáveis regionais informaram-me que estaria a decorrer um concurso que proporcionaria mais dois funcionários aos serviços locais de finanças da Calheta e que já estava em preparação um concurso para as obras…

Já há mais uma funcionária no serviço. Quanto a obras – porque o orçamento não atinge os milhões? – arrastar-se-ão em fases preparatórias e promissórias de concurso…

Quem se der à maçada de conhecer todos os serviços locais de finanças na RAM, poderá verificar que, em termos de instalações, as da Calheta são a única relíquia salazarenga…

Passadas seis décadas, com milhares de milhões de euros investidos ou gastos, em prédios, estradas, equipamentos, veredas e quejandos, não houve alguns milhares de euros para conferir um mínimo de dignidade aos contribuintes e aos trabalhadores fiscais da Calheta.

Em 2023, vamos ter mais umas eleições regionais! Desta vez, sim ou não?

Cada povo tem o que escolhe!