A legítima

São já muitos os países que festejam o dia da mãe durante o mês de Maio. Os festejos são convenções para recordar o que é importante. Neste caso, enaltecemos a maternidade, tendo como exemplo a mais legítima das mães, a Virgem Maria e, a seu lado, porque não há filho sem pai, a S. José, como o mais legítimo pai adotivo. A virgindade, a maternidade, a paternidade e a filiação estão presentes na Sagrada Família. Ou seja, todas as vocações para a santidade - para adorar e amar a Deus sobre todas as coisas - podem inspirar-se no exemplo da família de Nazaré. Logo, é legítimo honrar Nossa Senhora, S. José e todos os santos, embora em graus diferentes.

A Sagrada Família, constituída por Jesus, Maria e José, é a família que mais se assemelha à Família Divina, Pai, Filho e Espírito Santo, mistério de amor. Todas as vocações estão representadas de modo exemplar na Sagrada Família, nos diversos modos de amar a Deus: na virgindade, na maternidade, na paternidade, na filiação.

Devia chamar-se legítimo a tudo quanto está de acordo com a lei, mas nem sempre é assim, pois as leis humanas muitas vezes tendem a variar de acordo com as “necessidades” dos que detêm o poder: ganhar popularidade, ou seguir os apetites ou instintos que reinam na sociedade. Felizmente, há pessoas que preferem seguir leis seguras, as únicas verdadeiras.

Quais são essas leis seguras? Geralmente chamamos-lhes “leis da natureza”, mas elas são simplesmente leis divinas: são universais, isto é, aplicam-se a todas as coisas ou seres criados da mesma espécie; são imutáveis, mantêm-se desde que Deus as promulgou; devem ser respeitadas e obedecidas, pois levam a boas ou nefastas consequências: prémios ou castigos.

O mês de Maio pode convidar-nos pois a pensar no tema da legitimidade tendo como exemplo Nossa Senhora. Ela é a mais legítima das criaturas, a mais preparada para seguir a nobre vocação a que foi chamada e aquela que melhor cumpriu a missão que recebeu. O seu mérito foi apenas o de obedecer, pois já tinha tudo o necessário para poder agir.

A Virgem Maria foi concebida sem pecado original, sendo assim a criatura mais digna da criação, superior aos próprios anjos. O Arcanjo S. Gabriel chamou-lhe “cheia de graça”, algo que nunca se ouviu em relação aos anjos. Deus tinha prometido a vinda do Salvador ao mundo e “promulgou” leis para legitimar Maria aos olhos dos homens. O primeiro dom que lhe concedeu foi o da vida, enriquecido com o dom de uma alma sem pecado original. Não lhe retirou a liberdade, mas deu-lhe novas forças para vencer os sofrimentos próprios dos que salvam: o medo, a tristeza, o abatimento, as dúvidas, as injúrias, as incertezas, o cansaço, as perseguições... As mães legítimas devem seguir o exemplo de Nossa Senhora: aceitar a sua vocação de mães quantas vezes Deus quiser. Um bebé é sempre um filho legítimo de Deus, mediante a colaboração de seus pais.

Por Deus ter amado Maria mais do que a qualquer outra pessoa, criou-a já para ser sua esposa. O que dá legitimidade aos esposos? O seu amor exclusivo, mútuo e fiel e a abertura à vida. A maternidade virginal de Maria, e a paternidade virginal de José, eram consequência da sua entrega completa à vontade de Deus. Acima de tudo, viviam o primeiro mandamento da Lei de Deus: “Adorar e a amar a Deus sobre todas as coisas”. Ninguém é digno de ser filha, mãe ou esposa de Deus, mas Deus “legitimou” estes seus modos de “ser” de Maria. Foi filha legítima de Deus Pai, concebida imaculada (sem pecado original). Foi a criatura que melhor soube colaborar na salvação da humanidade, ao aceitar unir-se aos sofrimentos do Filho. Foi Mãe legítima. Ao renunciar a fama, honras e bem-estar, por amar e ser amada por Deus, tornou-se esposa legítima do Espírito Santo.

O Ano da Família vai terminar a 26 de Junho de 2022. Em Maio, todas as mulheres devem reconhecer em Nossa Senhora, no seu Imaculado Coração, o exemplo a seguir. Em Junho, mês dedicado à devoção ao Sagrado Coração de Jesus, olharemos para as três pessoas que formam a Sagrada Família, e para as relações e comportamentos familiares que as unem, como fontes de inspiração para alcançar uma santidade legítima, aquela que Deus escolheu para cada um de nós.

Isabel Vasco Costa