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Kherson

A emotiva chegada dos militares da Ucrânia a Kherson, que a Rússia mantinha ocupada desde a invasão, decorreu de forma efusiva e patriótica. Mas há qualquer coisa de estranho nisto. Não na recepção eufórica, mas na fuga vexante.

O Kremlin desculpou-se com a dificuldade de reabastecimento das suas tropas. Apesar da superioridade numérica do exército ucraniano avançando em direcção àquela cidade portuária.

Mas anunciar que abandonariam o alvo mais significativo entre as suas conquistas e anexações, deixa no ar a suspeita justificada de que alguma coisa se passa que a gente não sabe.

Zelensky disse ontem, em visita à capital regional retomada que estava “pronto para negociar a paz” e que aquela conquista significava “o início do fim da guerra”. Mas sempre afirmou que nunca cederia território em qualquer negociação que fosse encetada com o país invasor. Logo, a teoria de que “levas Kherson e a gente fica com Lugansk, Zaporijia e Donetsk”, fruto de eventual diplomacia que procure um entendimento para a pacificação que venha a finalizar a guerra, não parece verosímil. Até porque as batalhas nesta última região vêm sendo travadas diariamente com particular violência e densidade.

Então porque passaria a Rússia por esta humilhação? Para salvar as suas tropas em risco de perda iminente? Assim sendo, trata-se de uma pesada derrota no terreno. No entanto, continua com mísseis e diverso armamento que dispara aleatoriamente destruindo urbanizações e infraestruturas vitais quando entende. Uma guerra não acaba assim.

Que este acontecimento é estranho, é. Mas, para já, trata-se de uma valorosa vitória da Ucrânia. Que seja duradoira a felicidade estampada em tanto rosto.