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Divididos entre Bolsonaro e Lula, imigrantes em Portugal unidos contra o "roubo"

Brasileiros por todo o mundo voltam às urnas no domingo.  Foto Pedro Granadeiro/Global Imagens
Brasileiros por todo o mundo voltam às urnas no domingo.  Foto Pedro Granadeiro/Global Imagens

Imigrantes brasileiros na Costa da Caparica, Portugal, estão divididos pelo voto entre dois candidatos à segunda volta das presidenciais, mas unidos nas críticas ao "roubo" dos políticos no Brasil e no receio da violência.

O "roubo" é mesmo embaraço para alguns, como é o caso de Ricardo Oliveira, dono de um restaurante na Costa da Caparica. "Vergonha sinto eu do Brasil, em termos de Presidente, das pessoas que o gerem, devido ao roubo, estão roubando demais", afirmou o imigrante de 46 anos, nascido em Minas Gerais.

Imigrante há pouco mais de quatro anos, "em busca de uma economia melhor" e também de segurança, Ricardo já só quer regressar ao Brasil "em passeio". Hoje, diz que vai votar em Bolsonaro (extrema-direita, atual Presidente e recandidato ao cargo) porque "vai roubar menos do que o outro", Lula da Silva, esquerda e antigo chefe de Estado.

Posição diferente tem Ângelo Pais, de 34 anos e há um ano em Portugal para fazer um mestrado, que promete ir votar em Lula da Silva, tudo porque "o Brasil piorou bastante nos últimos quatro anos, uma situação catastrófica", em que a "pobreza, a miséria se propagou de uma forma nunca antes vista na história do Brasil, a violência, a desigualdade social".

Em 2018, Bolsonaro venceu com mais do dobro dos votos em Portugal do que Haddad, um resultado que foi completamente invertido na primeira volta deste ano, com o candidato de direita a obter metade de Lula da Silva, sinalizando uma mudança completa do perfil do votante em território português, o maior círculo do Brasil no exterior.

Hoje, o Brasil tem "um governo que tem toda a característica de um fascismo, que se fez na Europa muito na década de 30 do século passado", afirmou o aluno que veio da Baía estudar em Portugal e que há quatro anos já tinha votado no candidato do Partido dos Trabalhadores, então Fernando Haddad.

O estudante do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas olha hoje "com uma sensação de tristeza" para as declarações de Bolsonaro e recusa em comparar a corrupção do atual governo com o anterior.

Com Lula da Silva houve mais casos "porque o ex-presidente deu autonomia suficiente para que a polícia federal pudesse fazer o seu trabalho de escrutínio, inclusive daqueles que estão no poder", o que não acontecia até então. Apesar disso, Lula "não é corrupto", porque "foi absolvido".

Nos últimos quatro anos, Portugal assistiu a uma nova vaga de imigração brasileira (um terço dos estrangeiros) que elevou o número a um quarto de milhão de pessoas.

Elisângela Veríssimo, 38 anos, está imigrada há 18 anos e vê-se agora desempregada depois de anos a trabalhar como doméstica. Não irá votar mas, se o fizesse, votaria no candidato da esquerda.

O "Lula pode ser o que for, mas eu votava no Lula", porque "entre votar num ladrão e votar num psicopata, eu prefiro o ladrão", afirmou. Porque Lula "me surpreendeu, fez um bom trabalho", disse, acrescentando: até "pode ter roubado, mas quem é que entra lá [no poder] que não rouba?".

Para Elisângela, "os melhores anos que as pessoas tiveram no Brasil foi na altura do Lula". Até "nós aqui em Portugal, os brasileiros, tivemos alguns direitos foi com o Lula em Portugal, com os acordos feitos entre Portugal e Brasil".

Há quatro anos, se tivesse votado, teria optado por Bolsonaro, em comparação com Haddad. Então, o atual Presidente "era uma pessoa nova, ainda tinha alguma expectativa, era um militar".

E é essa dimensão militar que seduz Ricardo Oliveira, que elogia o apoio de Bolsonaro à compra de armas, uma política "excelente, que inibe o ladrão de entrar na sua casa".

Mas "independente de esquerda ou direita, está difícil [lá]. E na verdade tem um monte de gente vindo", acrescentou Ricardo Oliveira, que se mostra desencantado com o .seu país, à semelhança de Elisângela, que também não quer voltar.

"Não tenho coragem de jogar os meus filhos [um de 16 e outro de nove] hoje no Brasil. Para eles é ser jogados na selva", resumiu a imigrante.