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Autoridades sudanesas lançam gás lacrimogéneo para dispersar protesto em Cartum

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As autoridades sudanesas lançaram hoje gás lacrimogéneo em Cartum para dispersar milhares de pessoas que saíram às ruas em protesto contra o golpe de Estado de outubro, relatam as agências internacionais.

Segundo a agência France-Presse (AFP), que cita testemunhas no local, as forças de segurança sudanesas lançaram gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes concentrados em frente do palácio presidencial em Cartum.

A Associated Press conta que milhares de pessoas participaram nos protestos na capital, em Omdurman e noutras cidades do país, manifestações que ocorrem dois dias após a demissão do primeiro-ministro.

O primeiro-ministro, Abdalla Hamdok, foi afastado no golpe de outubro e voltou a liderar o Governo um mês depois na sequência de um acordo com os militares para acalmar a tensão e os protestos anti-golpe.

Hamdok demitiu-se no domingo perante o impasse político, afirmando não ter conseguido alcançar um compromisso entre os generais no poder e o movimento pró-democracia.

O Sudão vive um impasse político desde o golpe militar de 25 de outubro, que ocorreu dois anos após uma revolta popular remover o autocrata Omar al-Bashir e o seu governo islamita em abril de 2019.

Sob pressão internacional, os militares reinstalaram Hamdok em novembro para liderar um Governo tecnocrata, mas o acordo não envolveu o movimento pró-democracia por detrás do derrube de al-Bashir.

Desde então, Hamdok não conseguiu formar Governo perante protestos incessantes, não só contra o golpe de Estado, mas também contra o seu acordo com os militares.

Milhares de pessoas participaram nos protestos de hoje em Cartum e Omdurman e as imagens divulgadas na Internet mostram jovens manifestantes a cantar, a bater em tambores e a agitar bandeiras sudanesas.

Outras cidades, incluindo a cidade de Porto Sudão, registaram protestos semelhantes.

Antes dos protestos as autoridades fecharam as principais estradas e ruas em Cartum e Omdurman, segundo os ativistas, táticas que têm sido empregues nos últimos meses para evitar que os manifestantes alcancem os edifícios governamentais.

Quase 60 manifestantes foram mortos e centenas feridos na repressão dos protestos desde o golpe, segundo um grupo médico sudanês.

Os protestos são convocados pela Associação Sudanesa de Profissionais e pelos Comités de Resistência, que estiveram na origem da revolta contra Al-Bashir.

O movimento exige que o processo de transição deve ser liderado por um executivo totalmente civil, mas os generais insistem que só entregarão o poder a um Governo eleito.

As eleições estão planeadas para julho de 2023, segundo um documento constitucional sobre o período de transição.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou a um "diálogo significativo" entre todas as partes para se alcançar uma "solução inclusiva, pacífica e duradoura", segundo o porta-voz das Nações Unidas, Stéphane Dujarric.