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Tribunal aceita recurso que pede sentença mais severa para herói do filme "Hotel Ruanda"

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Um tribunal Do Ruanda aceitou hoje o recurso da acusação que pedia uma sentença mais severa para Paul Rusesabagina, figura que inspirou o filme "Hotel Ruanda", condenado a 25 anos de prisão por delitos terroristas em setembro passado.

O Tribunal de Recurso de Kigali iniciará as audiências deste na sexta-feira, apesar da recusa de Rusesabagina e da sua família em participar.

"O diretor da prisão de Nyarugenge [onde o antigo diretor do hotel está detido] está legalmente mandatado para informar os presos das suas comparências em tribunal, e fê-lo, mas Rusesabagina recusou-se deliberadamente a comparecer, pelo que o caso prosseguirá sem a sua presença", anunciou o juiz.

Na semana passada, a família de Rusesabagina criticou o recurso da acusação, e considerou o condenado como um "prisioneiro político", apelando à comunidade internacional para pressionar o Governo ruandês a libertá-lo.

Em 20 de setembro último, a Câmara do Supremo Tribunal para Crimes Internacionais e Transfronteiriços, em Kigali, considerou Rusesabagina culpado de criar e financiar a Frente de Libertação Nacional (FLN), a ala armada do seu partido, o Movimento Ruandês para a Mudança Democrática (MRCD).

O antigo gestor, que tem nacionalidade belga e residência permanente nos EUA, estava detido no Ruanda desde agosto de 2020, depois de um avião que o deveria ter levado para o vizinho Burundi ter aterrado em Kigali.

Embora o Governo ruandês mantenha que a sua prisão foi feita de forma legal, a família e os seus advogados afirmaram que foi "raptado, esteve desaparecido e foi sujeito a entrega extraordinária do Dubai ao Ruanda".

A Amnistia Internacional (AI) condenou as "numerosas violações" cometidas durante o julgamento, "incluindo a detenção sob falsos pretextos e a sua transferência ilegal para o Ruanda".

Rusesabagina é conhecido mundialmente por ter sido o gerente do Hotel Thousand Hills, em Kigali, que albergou mais de mil Tutsis e Hutus moderados para os salvar da morte durante o genocídio de 1994 no Ruanda, eventos que inspiraram o filme "Hotel Ruanda" (2004, Terry George).

Tornou-se mais tarde um adversário altamente crítico do Presidente Paul Kagamé, que tem governado o Ruanda com mão de ferro desde 2000.

Num vídeo, lançado no YouTube em 2018, Rusesabagina afirmou que "o povo do Ruanda já não pode suportar crueldade e maus-tratos" e apelou ao "apoio incondicional" ao FLN com o objetivo de "provocar mudanças no país, algo que ainda não alcançámos através de meios políticos".

"Como ruandeses, é importante compreender que esta é a única forma de alcançar a mudança", acrescentou o antigo gestor de hotel.

Em julho de 2018, cinco meses antes do lançamento deste vídeo, o porta-voz do MRCD, Callixte Nsabimana Sankara, anunciou que o seu partido já tinha começado a lutar para derrubar o Presidente Kagamé e atribuiu o assassínio de dois civis no sudoeste do Ruanda à sua ala armada.

Organizações de direitos humanos, como a Human Rights Watch, acusam o Governo ruandês de "ameaçar regularmente" os seus críticos, controlando os meios de comunicação social e o poder judicial, e perseguindo os seus opositores, com o objetivo de exercer "o controlo total do espaço político do Ruanda".