Crónicas

Debates viciados pelas tv’s

Não procuro 1.º Ministro, mas bons deputados que defendam a Madeira e a nossa Autonomia. Se isso ajudar a dar a vitória a Rui Rio ainda melhor. Era perfeito

Penso sempre ser um privilegiado por ter nascido e vivido na Madeira. Com a mesma convicção também tenho a certeza de ter tido pouca sorte ser português. Não pela História, que é inigualável e nos orgulha, mas pela degradação da sociedade em que viveu e vive a minha geração e a incapacidade em conseguirmos elevado nível civilizacional. Também me sinto culpado por isso.

Em 1970 estudei num colégio em Inglaterra. Acompanhei as eleições legislativas no Reino Unido: Harold Wilson vs. Edward Heath. Ganhou o conservador. Foi o meu batismo democrático. Foi o que de melhor aprendi nessa tentativa estudantil para ser engenheiro naval. Durante essa campanha eleitoral morreu o nosso Salazar. Fui chamado ao director que me deu três dias de luto que gozei em Londres.

A televisão era a novidade. Acompanhei, em directo, o Mundial de futebol do México ganho pelo Brasil de Pelé. No horário nobre assistia aos debates eleitorais. Algo que recordei, mais tarde, nos frente-a-frente com Soares e Cunhal. O país parava para essas sessões políticas que nunca mais se repetirão.

Hoje é ver a telenovela, o “big brother”, outra coisa qualquer mas “tirem-me esses gajos daí”.

Esses gajos são os políticos que serão eleitos, um deles para primeiro-ministro.

Devo dizer que os debates em si não me incomodam. Pelo contrário, sigo os principais e faço a minha avaliação, ainda que saiba em quem vou votar. Não procuro primeiro-ministro, mas bons deputados que defendam a Madeira e a nossa Autonomia. Se isso ajudar a dar a vitória a Rui Rio ainda melhor. Era perfeito.

Agora, o que não aceito em televisão e considero vigarice política, é a viciação que é feita pelos moderadores e pelos comentadores que se seguem a cada debate.

Os moderadores, sem qualquer pudor, manipulam os debates com perguntas sem linha coerente, interrompem as explicações, fazem expressões faciais suspeitas e concedem mais tempo a uns que a outros. Os candidatos apenas podem debater os temas escolhidos (?) pelos moderadores. Até eram diferentes as perguntas. Só foram frente-a-frente quando os candidatos ignoraram os supostos moderadores.

Quanto aos comentadores, é escandalosa a imediata vontade de influenciar os tele-espectadores valorizando o candidato da sua preferência partidária e denegrindo a prestação do que não apoia. Têm a lata suprema de interpretar o dito pelos candidatos como se o povinho em casa nada percebesse do que foi dito. Ou não fossem ter um entendimento fora das suas pérfidas opções. Tudo, na sua esmagadora maioria, ”esquerdalhas” sem profissão respeitável que ”gosmam” nos institutos públicos e parasitismo afim. A queda do governo será um recomeçar de vida, em idade já avançada, sem qualquer perspectiva. Salvam-se os comentadores jovens, independentes, sérios, competentes, sem carreira chulada à política, tudo o que os outros não são.

Por isso os debates são desiguais e os tempos de antena uma armadilha provocada para justificar e proporcionar horas de influência política ilegítima sobre a população, feita por gente indirectamente paga. Para além da “natural” parcialidade dos chamados moderadores, hábeis e astutos, o cúmulo da desfaçatez é protagonizado pelos directores dos canais televisivos que não deixam de se armar em comentadores para introduzirem “opiniões” que não são mais que a voz do dono. Ou a sua própria. É abuso de poder.

Todos reconhecem que o primeiro debate de Catarina Martins - com André Ventura - lhe foi adverso. O painel da SIC estava a confirmar isso mesmo quando, subitamente, entra e senta-se o director do canal para dizer que a líder do BE tinha estado muito bem. Provavelmente nem tinha visto o debate.

Nada disto é sério, imparcial e transparente. Mancha a democracia portuguesa e surpreende-me não haver a necessária denúncia. Obviamente que todos têm medo das represálias das televisões as quais muito facilmente podem apagar projectos políticos por mais bem intencionados que sejam.

Catarina Martins

Ouvir a líder do Bloco de Esquerda falar do Papa Francisco e dar como bom exemplo a Dinamarca é, no mínimo, abominável.

Lourdes Castro

Uma das nossas três referências mundiais, logo a seguir ao Cardeal Tolentino e ao Cristiano Ronaldo. O seu falecimento merecia melhor registo. Seria uma homenagem ao estatuto de artista de dimensão internacional. Até o jornal Público lhe deu foto a toda a altura da capa. Nós não valorizamos os nossos melhores. Exige-se o registo póstumo do seu nome com a dignidade inerente.

Justiça

É lamentável todo o universo da justiça. Somos terceiro mundo.

Bancos

Não há sector mais opaco, discricionário e discriminatório. Não há dois clientes iguais. Onde tudo pode acontecer.

Futebol

Menos importante para o país mas não deixa de ser um mundo de golpes inexplicáveis e consentidos.

Publicidade suicida

Um director de hotel no Funchal disse, na CNN Portugal, perguntado pelos eventuais cancelamentos de reservas para o Fim do Ano, que estava mais preocupado com os ventos no aeroporto da Madeira do que com o COVID.

Publicidade suicida. Não há nada como nós próprios para destruir o melhor destino do Mundo. Este paraíso só pode ter sido feito por Deus. Nós estamos encarregues de o destruir.

Mercadinho de Natal (2)

Se não existe qualquer favor aos bares e estabelecimentos no Mercadinho da Placa Central porque o Governo Regional, numa de tratamento igual, não efectua o controlo sanitário no acesso à Rua das Fontes e Zona Velha, cujos empresários pagam impostos, salários e rendas todo o ano ?