Crónicas

Ai Catarina, oí-ó-ai

1. Disco: passei o fim de semana na Convenção da Iniciativa Liberal. Nos tempos mortos e na viagem fiz uma “playlist” no Spotify, com música que ia de “Prince” a “Pedro Gonzalez and his Mexican Brass”, de “Alice Coltrane” a “Outkast”, dos “Wings” a “Blackalicious”, de “Red” a “Chic”. Viagens para mim, musicalmente, resulta nisto: ouvir muito e de tudo. Adoro “playlists”.

2. Livro: o que me acompanhou e que ainda não acabei de ler, mas arrisco: “2034” de Elliot Ackerman e James Stavridis. Ter vivido no período da Guerra Fria, entre o Ocidente e a ex-URSS, preparou-me, de certo modo, para o cenário desta, esperemos que o seja, distopia. O livro mostra-nos como pode começar e acabar uma Guerra Mundial, cujo resultado final é sempre o mesmo: milhões de mortos e um mundo a divagar com pouco sentido e esperança no futuro. A tecnologia e o erro humano andam, como sempre, de mãos dadas.

3. Catarina Martins veio à Madeira, creio que tentar apanhar os cacos do que outrora foi o Bloco de Esquerda, e aproveitou para dizer as alarvidades do costume. Deve ser uma chatice viver num mundo a preto e branco onde, de um lado, estão os bons (os que como ela pensam) e, do outro, os maus (nos quais certamente me inclui). Uma das causas da emigração, para a líder bloquista, é a inexistência de contratação colectiva. Ora, os nossos jovens qualificados emigram, por causa dessa inexistência, para países onde esse tipo de contratação não existe.

A sempiterna tentativa de desresponsabilização sobre os orçamentos que ajudou a aprovar. Se somos aqui chegados, o BE é tão responsável por isso como o PS e o PCP. Não foi isso a Geringonça?

A direita, ah! a direita, a culpada pelos pecados todos do país. A maldita da direita, a direita que só quer roubar os trabalhadores. O terror, o drama, a tragédia.

Vá lá que, devagarinho e suavemente para não ofender, vai defendendo, timidamente, a desnecessidade da existência do Representante da República. Mas, logo a seguir, fala de uma alternativa. Não é óbvia? Não compete ao Presidente da República o dever de fiscalização? Tribunal Constitucional? Tribunal de Contas? Fique descansada que, acabar com a colonial figura do Representante, não é o princípio da independência da Madeira.

Há uma parte na entrevista a estas páginas que, por mais que leia, continuo a não conseguir perceber. A direita (claro) apertou o cinto da Lei das Finanças Regionais em 2012 — resultado de um governo de esquerda desastroso que levou o país à quase bancarrota — mas a esquerda, que está há 6 anos no poder, não a mudou porquê? E vai por ali abaixo numa série de coisas desconchavadas e sem sentido, que vão da autonomia e do PS, e acabam nos investimentos e na riqueza do mar.

Para acabar, a cereja no topo do bolo. “A Zona Franca é uma aldrabice”. Que temos processos na União Europeia porque as empresas não criaram postos de trabalho. Não sei como, mas tenho de dizer à minha filha, que trabalha numa empresa instalada no CINM, que ela e os seus colegas — cerca de 25 —não trabalham no CINM. Meu bom amigo Miguel Correia, tu e os teus colegas, temos pena, mas não trabalham no Centro. Caríssimas quase 3 mil almas que trabalham na Zona Franca, esqueçam isso. A Catarina Martins disse que vocês são uma aldrabice. E aqueles postos de trabalho que foram criados noutras empresas que fornecem serviços a empresas que se vieram sedear entre nós? Assistência técnica, tecnológica, serviços de manutenção e limpeza, etc.? Tudo uma aldrabice.

Mas tem razão. No meio de tudo isto, houve quem se aproveitasse. A chico-espertice faz parte do ADN nacional. Que o diga Ricardo Robles e os negócios que eram da irmã, ou os próprios negócios de Catarina Martins que, afinal, são do marido. E sabe porque é que estas coisas existem? Porque o Estado, que a Sra. Deputado acha ser o supra-sumo da existência humana, não investiga, não cumpre o seu papel. É uma coisa disfuncional, enorme, que só para arrancar demora uma vida, com todos nós a empurrar em direcções diferentes, para que a sua imobilidade seja absoluta.

Os milhões de euros que o CINM gera em impostos fazem parte de um esquema internacional de roubar receitas fiscais. O nosso Centro é um antro de ladrões e o dinheiro que gera e vai para o Orçamento Regional é o resultado dessa gatunagem. Uma malandragem, no dizer da insigne líder do Bloco, que mente descaradamente fazendo jus ao seu antecessor na liderança do partido.

Mistura tudo, baralha e volta a dar. Na Madeira não existe nenhum “offshore”. E nem actividade financeira existe, uma vez que a praça financeira já foi extinta há uma data de anos.

É a própria OCDE que atesta a credibilidade da nossa Zona Franca ao não a incluir na lista negra, nem na cinzenta, que divulga com regularidade.

Catarina Martins, não sabe do que fala. E o BE da Madeira, ao não se demarcar destas aleivosias, só demonstra a irrelevância que tem.

4. Afinal gerir uma rede de perfis falsos nas redes sociais e ter falta de carácter, compensa! O fundo do fundo é uma coisa que não tem fundo. Obrigado ao PSD Madeira por constantemente nos lembrar estas coisas. Não as fôssemos esquecer.

5. Não me venham com tretas. Eu, defensor incondicional da democracia liberal, da divisão dos poderes, do sistema de “check and balances”, estou cada vez mais convencido de que o que a maioria quer é um paternalismo suavemente ditatorial, que decida por todos. Estou convencido de que, para a maioria, o exercício da cidadania é uma chatice. Que o ser exigente sobre a aplicação do que pagamos de impostos é trabalhoso. Que temos muitos direitos e que se lixem os deveres.

A três anos de se comemorarem os cinquenta anos do 25 de Abril e do 25 de Novembro, eis-nos aqui chegados, a este caldinho que não é nada, a este servilismo abjecto, a esta recusa de arriscar no novo, no diferente. Alternamos sempre entre a porcaria e a imundice. E disto não saímos.

Somos culpados por inanição, por submissão, quando estes tempos deveriam ser os tempos de todas as insubmissões!

Não é preciso ser nenhum Einstein, para adivinhar o que vamos ter a 30 de Janeiro.

6. E como já não chateio com estes assuntos há algum tempo, aqui ficam mais uma vez estas questões, cujas respostas vou esperar sentado:

E para quando fazer da Marina do Lugar de Baixo um monumento à incúria humana, deitando abaixo os tapumes para que todos os madeirenses possam ver o resultado de construir sem estar apoiado em estudos e ciência?

Onde estão o estudo do custo/benefício para o prolongamento do Porto do Funchal?

E o Penedo do Sono, o kartódromo e o estádio de desportos de praia no Porto Santo?

Os monos das Sociedades de Desenvolvimento?

Está toda a gente sossegada com a ópera bufa sobre o empréstimo que Rui Barreto “y sus muchachos” arranjaram para ajudar a pagar a campanha do CDS nas últimas regionais? E a não declaração, do mesmo, ao Tribunal Constitucional?

E uma lista com o nome de todas as empresas que beneficiaram de apoios do Governo Regional, por causa da pandemia, para que fique claro quem recebeu o quê?

E as ETARs que não funcionam, como a da Boaventura?

7. “A saia da Catarina
Tem uma barra encarnada
Tem cuidado, ó, Carolina
Não fique a saia rasgada”