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"Não há vontade ainda" para conjuntamente resolver falta de mão-de-obra, dizem directores de hotéis

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A Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal (ADHP) considera que "não há vontade ainda" para se trabalhar em conjunto em soluções para a falta de mão-de-obra no setor, embora comece "a haver espaço" para esse diálogo.

Em declarações à Lusa, o presidente da ADHP, Raul Ferreira, aponta alguns constrangimentos a essa resolução, bem como algumas das questões que na associação sentem quer do lado dos sindicatos, quer do lado do patronato.

"A Agenda para o Trabalho Digno se avançar cria grandes constrangimentos com as empresas de trabalho temporário. Quer dizer que vai aumentar mais esta dificuldade que o setor sente em contratar [trabalhadores]. Acho que é um trabalho que vai ter que ser pensado a médio prazo. Se calhar é altura de todos darmos as mãos, trabalharmos em conjunto e percebermos o mercado", começa por considerar.

Questionadas as prioridades a trabalhar, evoca a "dignificação das profissões" ou a "criação de mais condições", nomeadamente de horários, com alguma flexibilização.

"Se calhar, flexibilização de horários em que, por exemplo, possamos aumentar os horários uns dias e as pessoas por sistema poderem trabalhar quatro dias em vez de trabalharem cinco", exemplifica.

Ou, outra prioridade se se quer captar jovens, como tem sido apontado pelo patronato, uma melhor adaptação a novas realidades.

"Na minha geração, escolhia-se esta profissão e era uma opção de vida (...), as novas gerações querem saber a que horas entram e a que horas saem, não se importam até de trabalhar mais, mas querem saber que saem, e querem ir fazer surf, e querem ir andar de bicicleta. Não quer dizer que concordemos ou não, não está em questão. É uma realidade que sentimos enquanto associações, enquanto setor, e devemos prepararmo-nos para essa realidade nova", afirma.

No entanto, estas são realidades para as quais diz não sentirem ainda abertura por parte dos sindicatos nem do patronato.

"Não há abertura por parte dos sindicatos porque acham que de uma forma geral se vai explorar as pessoas. Não se pode pôr pessoas a fazerem 12 horas mesmo que depois fiquem quatro dias em casa, acham que não é possível. E por parte de entidades patronais também não [há abertura] porque acham que se mexerem muito, se dignificarem as profissões, as pessoas vão querer ganhar mais dinheiro e, por isso, é que se acabou com a profissão de diretor do hotel e, com isso, baixaram brutalmente os ordenados e ganha-se hoje muitíssimo menos do que se ganhava há 20 anos", justificou.

Para Raul Ferreira isto tem custos e as empresas estão "a começar a perceber".

"Aliás, já perceberam durante esta pandemia quando muitos hotéis que não tinham diretores não conseguiram abrir em condições, andaram atabalhoados, não conseguiram perceber o que é que era o mercado e não conseguiram ajustar-se", disse ainda.