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Os animais e os humanos

Em Inglaterra, a 22 de julho de 1822, o feirante Bill Burns foi julgado por maus-tratos ao seu burro

A capacidade de sofrer e não a capacidade de raciocínio deve ser a medida para como nós tratamos outros animais.

Jeremy Bentham

Pitágoras (570 a.C. – 495 a.C.) dizia que a alma humana, depois da morte, voltaria a ser reencarnada noutras pessoas ou nos animais. Naquela época, acreditava-se que, embora de uma forma imperfeita, a alma dos animais podia ser equiparada à alma humana.

São Francisco de Assis (1182-1226) foi um dos primeiros grandes defensores da natureza e um dos maiores protetores dos animais, até os tratava por irmãos. Aliás, até dizem que este santo amava mais os animais do que as pessoas, pois, São Francisco não encontrava nos animais sinais de inveja, maldade e ódio que via nas pessoas. Por estes motivos, São Francisco continua a ser o padroeiro dos animais. Há quem o considere como tendo sido, também, um dos primeiros ecologistas, tal foi a sua defesa e amor pelos animais e pela natureza em geral.

Jeremy Bentham (1748-1832), apontado como um dos criadores do Direito dos Animais, dizia que a dor animal é tão real e moralmente relevante como a dor humana e argumentava que a capacidade de sofrer e não a capacidade de raciocínio deve ser a medida para como nós tratamos outros animais.

DUDA
A Declaração Universal dos Direitos do Animal, de 1978, determina que os direitos do animal devem ser defendidos pela lei como os direitos do homem (artigo 14.º, n.º 2 da DUDA proclamada pela UNESCO no dia 27 de janeiro de 1978). Esta paridade de direitos entre animais e humanos não é apenas teórica, desde há muito tempo que se materializa em ocorrências concretas, como o caso da criança Mary Ellen, no final séc. XIX (menina maltratada que foi defendida por uma sociedade de animais – ver DN de 30-05-2016).

O caso do burro maltratado
Em Inglaterra, a 22 de julho de 1822, o feirante Bill Burns foi julgado por maus-tratos ao seu burro. Para que o juiz não tivesse dúvidas, um deputado britânico, Richard Martin, levou o burro até à sala da audiência para que o juiz observasse diretamente as lesões causadas pelos maus-tratos. Este episódio causou grande sensação na época. Uma pintura deste julgamento está exposta na sede da Sociedade Real para a prevenção da crueldade nos animais e representa, sem dúvida, um símbolo no que diz respeito à defesa dos direitos dos animais. Pois, na verdade, o burro era a verdadeira vítima, tinha direito a estar, também, presente no julgamento.