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Juizinho

Quanto ao PSD tem sede de poder e já saliva com os milhões da bazuca europeia

Há muita coisa a acontecer ao mesmo tempo. Há toda uma irracionalidade e uma falta de juízo em torno dos últimos acontecimentos políticos. E as pessoas, que têm de enfrentar tantos problemas no seu dia a dia, não entendem o porquê de se ter criado um problema político de todo o tamanho, complicando ainda mais as suas vidas. O chumbo do Orçamento de Estado e a mais que provável dissolução do parlamento, coloca o país com o futuro em suspenso.

E porque chumbaram os partidos da oposição o Orçamento? A verdade é que a razão do chumbo não foi o Orçamento. Esse foi somente o pretexto. O PCP e o BE aprovaram num passado recente Orçamentos não tão benéficos como este. De todos, este foi o Orçamento mais à esquerda, que continha propostas ouvidas sempre nos seus discursos, como o reforço de verbas para a saúde e educação, a baixa de impostos, o combate à pobreza e o aumento de pensões, só para dar alguns exemplos. Então porque o chumbaram? Simplesmente porque os resultados eleitorais das autárquicas mostraram uma perda de eleitorado, tendo esses partidos atribuído esse facto à sua aliança na geringonça com o PS. Depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter dito que dissolveria a Assembleia se o Orçamento fosse chumbado, não tiveram dúvidas no sentido de voto. Ao fazerem cair o governo socialista regressam ao seu reduto de protesto, e sabem que se o próximo governo for de direita vêm para rua, pensado que com isso crescerão eleitoralmente. Quanto ao PSD tem sede de poder e já saliva com os milhões da bazuca europeia, estando na disposição de para lá chegar, fazer acordos com o Chega e levar o André Ventura para o governo. E são estes tacticismos políticos e os interesses partidários a interferirem e a sobreporem-se aos interesses do país.

No meio deste descalabro nacional, Miguel Albuquerque andou a ziguezaguear em busca de palco político sem atender aos interesses dos madeirenses. No espaço de uma semana, afirmou de forma contundente o voto contra dos três deputados do PSD-Madeira na Assembleia da República, querendo uma crise política ao afirmar publicamente que “a queda do governo era a melhor coisa que podia acontecer ao país”. O mesmo Miguel Albuquerque mudou subitamente de opinião abrindo a porta à viabilização do Orçamento, dizendo-se disponível e a aguardar um telefonema. Mas como ninguém lhe ligou, o presidente do Governo Regional voltou à postura inicial num conjunto de declarações públicas completamente desajustadas. Sinal claro de desorientação política face aos acontecimentos presentes e futuros. Os governos do Partido Socialista têm sido bem melhores para a Madeira do que os do PSD. Os de António Costa não foram excepção, pelo que a queda do governo do PS deixa em alerta o PSD-Madeira, pois se porventura o país tiver um governo do PSD, não só não conseguirão satisfazer as suas reivindicações, como acaba-se a narrativa que diaboliza os governos socialistas, e será o fim da estratégia do inimigo externo, usada para tirar dividendos partidários.

Mas ainda vai correr muita água debaixo da ponte. Aguardemos pelo que dirá o Presidente da República na próxima quinta-feira. A haver eleições antecipadas, como se prevê, este jogo perigoso em que nos encontramos, pode levar a embaralhar as cartas e voltar a jogar de novo, e continuar tudo igual. Por isso é importante que o PS vença e reforce a sua votação. Mas é preciso muito juizinho e responsabilidade, particularmente por parte dos partidos à esquerda. Sendo certo que o PS não pode abandonar o centro, porque é um partido moderado, é necessária uma convergência à esquerda, diferente daquela feita com a geringonça, com um acordo assinado para a legislatura, assente em reformas estruturais que o país precisa. Dessa forma não estaremos, como agora, sempre com o “credo na boca”, dependentes de uma negociação de quinze dias antes da aprovação de cada Orçamento. Que assim compreendam PCP e BE, e que haja razoabilidade, porque governar exige responsabilidade. Se tal não acontecer, entraremos numa espiral que nunca conhecemos, e veremos o PSD a agarrar-se ao Chega, e não o contrário, formando um governo que arrastará o país para uma direita que tanto mal tem feito por esse mundo fora. E eu não quero comemorar os 50 anos do 25 de Abril com o meu país na mão da extrema-direita.