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Breves notas acerca do suicídio

Qualquer suicídio é uma tragédia pelo potencial humano que se perde, pela dor, incompreensão e por vezes culpabilização de quem fica.

E a falta de “respostas” para os porquês e a forma abrupta como tudo termina podem dificultar o processo de luto.

O suicídio é o último grau do espetro do desespero, daquele que dói muito e dói sempre, da sensação de desamparo e de vergonha intolerável. A incapacidade de ver soluções para os problemas percecionados faz com que a ténue luz da esperança ao fundo do túnel se torne cada vez mais frágil, ao longo do tempo, acabando por se apagar sem retorno, num túnel também ele cada vez mais negro, estreito e opressor.

A depressão é um fator de risco chave para o suicídio. Outros incluem as perturbações psiquiátricas, o abuso de substâncias, dor crónica, história familiar de suicídio e tentativas anteriores de tirar a própria vida.

Se uma pessoa com fatores de risco começa a exibir alterações de humor súbitas, até mesmo melhorias repentinas e notórias do mesmo, ou apresenta comportamentos novos e pouco habituais, pode estar ativamente suicida. Quem verbaliza que é um fardo para os outros, que não tem razões para viver, que se sente encurralado ou com dor insuportável pode também estar a contemplar o suicídio.

Estatisticamente o suicídio ocorre mais frequentemente entre os 45 e 54 anos. As mulheres apresentam mais probabilidade do que os homens de tentar o suicídio, mas os homens apresentam mais probabilidade de completar o ato.

Um dos mitos acerca do suicídio que é importante desmistificar é que falar com alguém que parece contemplar o suicídio encoraja o ato. A verdade é que é muito importante iniciar essa conversa, propondo recursos para lidar com a situação como a sugestão de uma consulta com um psicólogo, o recurso a uma linha de prevenção do suicídio, ou simplesmente estar de coração aberto e disponível, ouvindo e acompanhando o outro com empatia e compaixão.

Seja direto com a pessoa perguntando (algumas) das seguintes questões:

- Como é que estás a lidar com os teus problemas/dificuldades?

- Estás a pensar em fazer mal a ti próprio?

- Estás a pensar em morrer?

- Estás a pensar acerca do suicídio?

- Tens algum plano para acabar com a própria vida?

Esta conversa pode muitas vezes levar a que a pessoa se sinta vista pelo outro, para além da visão inaceitável, ominosa e fechada em si própria que tem de si, permitindo ventilar e espelhar a intolerabilidade do caos que o suicida sente e se depara todos os dias, momento a momento, de forma esmagadora. E este encontro entre duas pessoas pode funcionar como um estender da mão, o toque de humanismo que é capaz de salvar uma vida.