Madeira

São João de Deus com menos internamentos por álcool e droga em 2020

Os novos casos são poucos, a maior parte são reincidentes. Funchal e Câmara de Lobos propiciam excessos

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Foto Arquivo

Em 2020 houve menos pessoas a serem internadas na Casa de Saúde São João de Deus por consumo de álcool e na sequência de perturbações mentais por abuso de drogas, quando comparado com 2019, revelou o director. No álcool houve uma redução de 9,3% e os internamentos por perturbações mentais associadas a substâncias psicoactivas caíram 4%. Eduardo Lemos, o director da instituição, diz que foram poucos os novos casos. Funchal e Câmara de Lobos são os locais mais propícios aos excessos.

A Casa de Saúde São João de Deus tinha registado em 2019 280 internamentos por dependência do álcool e 175 por perturbações associadas à droga. Em 2020 esses números caíram para 254 e 168, respectivamente. A maior parte são casos reincidentes, deu conta o responsável.

Na Madeira, no geral, há níveis elevados de consumo e de internamentos, segundo o director da Casa de Saúde, mas há zonas onde além da componente cultural a alta densidade populacional e a disponibilidade e acessibilidade aos produtos fazem aumentar esses números. “Estamos a falar em áreas como Funchal e Câmara de Lobos, são na Madeira as zonas onde se traduz em maior número de internamentos, quer nas áreas do álcool, quer na área das drogas”.

Eduardo Lemos amite que o confinamento possa ter contribuído para alguma diminuição dos números, mas teme que vá levar a perturbações e outras patologias de natureza psiquiátrica: “Alguns quadros de violência doméstica por transtornos de personalidade; perturbações de ansiedade, perturbações psicóticas devido ao confinamento e provavelmente ao uso de substâncias”.

O director da Casa de Saúde São João de Deus revelou que a média de idades das pessoas internadas por dependência do álcool anda à volta dos e 40 anos, e que no caso das drogas desce para os 30.

A incidência de novos casos em 2020 é muito baixa, embora o director não pudesses dar os números. Na grande maioria, os que procuraram ajuda no ano passado na instituição são pessoas que já lá tinham estado, são pessoas que tiveram vários internamentos e que não conseguiram se tratar. "Relativamente às drogas, o que sabemos é que as médias de idades têm aumentado substancialmente, o que significa que provavelmente há menos jovens a consumir. Relativamente ao álcool, infelizmente a média de idades é muito alta, o que significa que as pessoas também recorrem ao tratamento dos problemas do álcool já em idades mais avançadas, provavelmente com situações de dependência muito marcadas”. Este procurar ajuda tarde tem como consequência maior dificuldade no sucesso do tratamento e reabilitação, analisa.

De entre a população internada por álcool, entre 12% e os 14% são mulheres. Tem havido ao longo dos anos um pequeno aumento do número, reflexo, diz Eduardo Lemos, do trabalho de sensibilização que vem sendo feito e da adesão destas ao tratamento.

Mas mesmo quem procura ajuda nem sempre se livra do problema. O director da Casa de Saúde aponta um conjunto de factores como estando na base das recaídas, dos pessoais aos estruturais, passando pelos económicos, ambientais e culturais. O terem idades avançadas quando recorrerem “é um factor de prejuízo”, alerta. E a "cultura do álcool" também contribuir para o insucesso da reabilitação para a vida. “Às vezes são os próprios amigos, a própria família a incitar a pessoa a beber. O que nós sabemos, é que neste processo de reabilitação o cuidado e a atenção tem de ser ao longo da vida toda, com a participação positiva de todos os actores”.

Uma pessoa que se tornou dependente do álcool e quer a reabilitação não pode voltar a beber, deixa claro. “Do ponto de vista teórico é esse o grande postulado do tratamento. No tratamento de reabilitação, quando há um retorno aos consumos é sempre um mau preditor e um mau indicador relativamente à continuidade do processo reabilitativo e de recuperação”.

Um tratamento por dependência do álcool tem a duração de 24 dias na instituição, sendo depois o paciente acompanhado fora pelos serviços de saúde. É um programa certificado, destaca Eduardo Lem, com algumas diferenças em termos da fisiologia, do ponto de vista psicológico e das interacções sociais dependendo do género, mas no geral idêntico e não doloroso.

“A satisfação quer dos utentes quer da família é francamente elevada, embora haja também algum abandono do tratamento por algumas pessoas que eventualmente não estão devidamente preparadas para iniciar um programa desta natureza”. Eduardo Lemos diz que todos melhoraram a sua qualidade de vida após o internamento e que a percentagem de abstinentes a 12 meses do tratamento é cerca de 70%.

Um caso é dado como de sucesso quando completa o tratamento, mas o verdadeiro sucesso é a reabilitação contínua. O director diz que há casos de pessoas que foram tratadas e vivem há 20, 30 e 40 anos sem álcool. Esta continuidade é conseguida por cerca de 15%, mas tem um potencial muito grande de crescimento e isso dependerá, no seu entender, da atenção, dos tratamentos e da continuidade dos cuidados.

A falta de esperança, a incerteza quanto ao futuro, as baixas expectativas e outras dificuldades nomeadamente relacionadas com a falta de emprego não propiciam o sucesso nos tempos actuais. “Julgo que temos de ter uma natureza de atenção em saúde e atenção social mais elevada, porque naturalmente estas situações vão criar dano individual, dano colectivo. Do ponto de vista económico, do ponto de vista social, do ponto de vista mental. E isso carece que todos nós consigamos dar maior atenção às pessoas que nos rodeiam”, alerta.

Eduardo Lemos pede ainda maior valorização da saúde mental das pessoas.

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