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Assar manteiga no espeto

Deve haver uns poços de petróleo, umas minas de ouro e diamantes junto das instalações dos nossos governos

Já lá vão muitos anos… Em amigável conversa com um dos empresários da nossa terra, ele contou-me um episódio que terminou numa recomendação do seu pai:

- Filho, nunca deves assar manteiga no espeto!

De facto, colocar manteiga num espeto para a levar ao lume só serve para se perder, uma vez que, mesmo que algum permaneça no espeto a grande maioria é para se perder no lume. Não serve a ninguém. Não tenho dúvidas que foi uma grande lição. Nunca me esqueci desta frase.

Por imposição profissional, tenho de estar atento aos diários oficiais, onde procuro as alterações, novidades e outras que tais, por forma a poder estar actualizado. Curiosamente, cada vez mais encontro assuntos relacionados com a pandemia que nos assola e ao mundo inteiro. E, também encontro inúmeras recomendações aos nossos governos, no sentido de alargar as benesses, as ajudas a este ou aquele grupo, profissional, social, etc.

Pelo que vejo e leio, concluo que deve haver uns poços de petróleo, umas minas de ouro e diamantes junto das instalações dos nossos governos. Até parece que se trata dum manancial infinito de recursos que o país e a região têm para distribuir pelos bolsos de alguns cidadãos.

Compreendo que ao injectar dinheiro nas entidades empregadoras, os responsáveis governamentais estão a tentar atenuar os nefastos efeitos da pandemia na economia que a todos afecta. Também julgo que será melhor ajudar os empregadores a manter os empregos do que gastar o dinheiro a pagar subsídios de desemprego. Na manutenção do emprego, a economia mantém-se em funcionamento, mesmo que periclitante. Na segunda, a economia esvai-se.

Compreendo também que os mais desfavorecidos, aqueles para quem a natureza não facilitou, deixando deficiências ou uma saúde debilitada e a sorte foi madrasta, também merecem que a sociedade olhe por eles. Mas aos vadios?! Desculpem-me, não merecem nem a água que bebem. Conheço demasiados que vivem chupando (chulando é que seria o termo certo) a sociedade há demasiado tempo. E conheço outros que, desde que o infortúnio lhes caiu em casa, correram à procura de trabalho e soluções para a sua vida. Basta passar nos mais diversos estabelecimentos comerciais, para ouvir os sotaques das pessoas que nos atendem e identificar as origens mais diversas. Sei duma trabalhadora que, ontem, era médica cirurgiã e que, hoje, é ajudante de cozinha.

Então para os primeiros, seria de aplicar a lei que determina que os que comem à mesa do orçamento público têm de contribuir com algum trabalho, tarefas que revertam a favor da comunidade. Exemplos: arranjo de jardins, limpeza de estradas, apoio administrativo, apoio familiar a terceiros, etc., etc.

Por este andar, daqui a algum tempo, hei-de ver críticas e censuras dos mesmos mãos-largas a defender a prudência e a ponderação na utilização dos recursos públicos.

Entretanto, a classe média definha cada vez mais.

Quando a manteiga estiver assada, o espeto arde mais depressa.

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