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Definhando a cada dia que passa

O risco de termos uma nova vaga é grande. Como estamos preparados para enfrentá-la?

Somos uma terra de brandos costumes e somos tão brandos que vamos definhando sem reagirmos.

É impressionante como o maldito vírus serve para justificar todas as decisões, medidas, ineficiências e ausências de respostas. E agora tudo gira à volta da COVID-19. Mas, não existe mundo para além da COVID-19?

É chocante esta postura até na saúde. Mas, porventura, não temos diabéticos, hipertensos, cardíacos, doentes oncológicos, de insuficiência renal e de tantas outras patologias que necessitam igualmente de ajuda? É prudente a ausência de respostas a tantos doentes durante tanto tempo?

É, por isso, de se espantar com o aumento de mortes na Região? Já por 2 vezes, o DIÁRIO de Notícias alertou para o aumento de mortes em comparação com período homólogo no ano passado. Podem alegar que não são consequência da COVID-19 e, efetivamente, para sabermos se algumas destas mortes foram de COVID-19 teríamos de fazer testes. Mas eu pergunto, as negligências de tratamento e atrasos na avaliação de estados de saúde e exames de despiste não são também consequências da COVID-19?

Na evolução da nossa sociedade conseguimos controlar uma variedade de doenças que nos permitiram prolongar a vida com qualidade. Todo o trabalho feito foi em vão?

Expliquem-me bem devagarinho porque é que logo no início desta pandemia, os serviços de saúde não tiveram a capacidade de se reorganizar para darem resposta aos problemas de saúde de tantas pessoas? É inadmissível que ao fim de 1 mês, no máximo 2 meses, não tenham sido disponibilizadas alternativas aos problemas existentes. Em saúde, a ausência de respostas atempadas pode determinar a perda de uma vida humana.

Por acaso agora já não interessa como se morre, desde que não seja por COVID-19, para mantermos o título de “Madeira – destino seguro”? É isto que se quer para o futuro? Certamente não é o que eu quero.

As respostas aos nossos problemas de saúde estão a ficar aquém das nossas necessidades. É revoltante a demora do Governo Regional da Madeira nas respostas aos problemas de saúde das inúmeras patologias que a nossa população padece. Temos uma carrada de exames, cirurgias e tratamentos em atrasos e devemos resignarmo-nos a esta situação porque simplesmente existe a COVID-19? E a nossa oposição também acha que o Governo Regional esteve bem na sua atuação?

Maior rapidez exige-se. O tempo é vital na saúde. Passados 5 meses, ainda não houve tempo para a reorganização de alguns serviços de forma a que possam funcionar numa “nova normalidade”? E caso a situação se descontrole, é aceitável parar tudo, outra vez, na área da saúde?

E como é que nós, cidadãos, devemos reagir perante tudo isto? Devemos passivamente cruzar os braços e aceitar a ausência de respostas porque existe um coronavírus? Já não é tempo de exigirmos maior competência? E perante um novo confinamento, vamos encolher-nos e ficar caladinhos? Vamos definhar até a morte caladinhos?

O risco de adiar a resolução dos problemas é que eles crescem como uma bola de neve e, de repente, temos de lidar com o risco iminente de uma valente avalanche. Muitos problemas foram empurrados com a barriga. O risco de termos uma nova vaga é grande. Como estamos preparados para enfrentá-la?

Assusta-me as vulnerabilidades que a nossa terra apresenta e a forma como estamos organizados.

Gerir é uma arte. Precisa-se antever problemas. É preciso gerir equipas e fazê-las gerir o tempo. É evitar o esgotamento físico e emocional para que as equipas possam lidar com os problemas atempadamente e, em caso de urgência, motivá-las para realizar esforços adicionais, mantendo-as sempre operacionais.

É impressionante como aprendemos muito pouco com esta pandemia. É impressionante a insistência de quem tem responsabilidades políticas em apresentar soluções futuras com base no que éramos no passado. Isto assim não vai lá.

Nada voltará a ser como era. Quanto mais depressa nos mentalizarmos desta realidade, mais depressa conseguiremos encontrar as soluções para o futuro.

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