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A reprogramação das obras públicas

Face à crise que se avizinha será normal que algumas obras sejam suspensas ou mesmo anuladas para que o dinheiro seja desviado do acessório e aplicado no essencial. É o caso da intervenção prevista para a Estrada das Carreiras fundamentada na sua pouca largura, para a circulação dos camiões que diariamente transportam terras e lixo para a Meia Serra e, no seu péssimo estado de conservação. É verdade que a estrada tem pouca largura mas os acidentes, por essa razão, jamais aconteceram. Se for alargada, a tendência dos condutores será acelerar e o risco de acidentes em vez de diminuir aumentará. Quanto ao estado de conservação acho que até está muito bom para camiões e a ser feita intervenção terá de ser à custa das empresas que mais beneficiam com esta atividade mas nunca utilizando dinheiro dos contribuintes situação que aliás está prevista na lei fiscal. Os rallies são outro argumento que poderá estar na base desta intervenção, mas que não se justifica, uma vez que está provado que este falso desporto não representa qualquer mais-valia para a região como aliás acontece com todos os desportos utilizados como espetáculo. Este período de isolamento forçado, que tem impedido a realização de espetáculos desportivos, tem sido muito bom pela ausência de ruído nos meios de comunicação provocado por debates, comentários e análises doentios. Oxalá nunca mais regressassem porque esta paragem tem sido muito boa sobretudo para a saúde mental dos fanáticos que tantos problemas têm provocado a nível de segurança. E se desaparecessem de vez teríamos uma boa poupança de receitas públicas que daria para coisas muito mais úteis. Desporto é atividade física regular das pessoas e não assistência a espetáculos nos quais meia dúzia de desportistas profissionais mostram as suas habilidades. O que a população da Estrada das Carreiras quer não é o melhoramento da estrada mas a construção de uma outra só para os camiões, que evite a sua passagem junto das residências, por forma a eliminar os inconvenientes (ruído, poeira, lama, trânsito bloqueado) que têm suportado ao longo de mais de duas décadas. E não é só a população que reclama e sairá beneficiada com esta medida mas também os turistas porque detestam os inconvenientes originados pelos camiões nomeadamente o ruído. Infelizmente nesta terra só se mede a qualidade do ar, que qualquer cidadão sabe ser normal, mas a intensidade do ruído não, quando se sabe que na Europa evoluída, de onde provém a maior parte dos turistas que nos visitam, “o silêncio é de ouro”. Finalmente seria uma forma de recuperar a “Aldeia Típica”, inaugurada há alguns anos com pompa e circunstância, pelo Presidente da Câmara Municipal do Funchal, destinada a perpetuar a aldeia madeirense e a ser visitada sobretudo por turistas, mas infelizmente abandonada em consequência dos inconvenientes referidos. As decisões de obras públicas não deviam ser tomadas somente pela Secretaria das Obras Pública mas envolver outras, nomeadamente a do Turismo, por ser a atividade que maior impacto sofre com as mesmas para o bem ou para o mal.

Manuel João Baptista Rosa

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