Madeira

Quando o trânsito (ainda) era caótico no Funchal

O título é, naturalmente, irónico, e para o confirmar basta ler o texto que acompanha a notícia principal desta edição de 24 de Fevereiro de 1990

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“Declarada guerra aberta contra trânsito caótico” começava a assim, com um título ‘beligerante’ a um flagelo que, aparentemente, era de outros tempos, mas para quem circula no Funchal, sobretudo em dias de algum evento popular na baixa (como o Carnaval, por exemplo), deixa muitas artérias do Funchal com centenas de viaturas mal estacionadas, complicando a restante circulação.

Mas, na altura, em 1990, ou seja há 30 anos, “circular de automóvel pelas ruas do Funchal é, hoje, um drama. Numa sucessão interminável de ‘pára e arranca’, o tráfego citadino encontra-se numa situação caótica”. E acrescentava-se: “É a lei do que mais pode, ou da selva como ontem deu a entender Bazenga Marques (então secretário regional da Administração Pública). Tudo vale: estacionar em passeios ou em outros locais proibidos; desrespeitar passadeiras. Peões e automobilistas atropelam-se. Não espanta, pois, que as autoridades regionais olhem com apreensão para o confuso trânsito da cidade. Ontem, em reunião que contou com a presença de várias autoridades, Bazenga Marques declarou ‘guerra aberta’ ao caos em que se encontra o trânsito. E vai exigir de todos, empresas, peões e automobilistas a conjugação comum de esforços.”

Isto era apenas o que se lia na primeira página, mas que era desenvolvido na página 7, que pode ler no anexo em baixo. Numa notícia mais nacional, também era dado destaque ao descontentamento da Igreja Católica que queria também ter uma estação de televisão.

“Televisão privada afasta Bispos do Governo português” era o título. “A declaração do episcopado, emitida em Fátima quinta-feira e ontem tornada pública, assinala que ‘os bispos consideram que a proposta de lei sobre a matéria, recentemente apresentada à Assembleia da República, não corresponde aos compromissos publicamente assumidos e às expectativas criadas’”, dizia o texto resumo. “A declaração adianta que a citada proposta de lei ‘contém aspectos de fundo que não salvaguardam os direitos da Igreja consignados na constituição e não satisfaz o bem público”. E explica: “Com efeito - prossegue - seria inaceitável que a televisão em Portugal ficasse, à partida, exclusivamente entregue ao poder político e ao poder económico. Dada a importância do problema e o seu inegável alcance, os bispos, por decisão unânime, confiam ao presidente da Conferência Episcopal a condução do processo”, refere o comunicado. A nota dos bispos portugueses, que estiveram reunidos em Fátima nas jornadas de estudo sobre comunicação social, ressalta que ela foi emitida depois de terem sido “informados sobre a última fase do processo referente à atribuição de um canal de televisão à Igreja Católica”. Viria a ser fundada em Março de 1991 nesses termos.

Por outro lado quatro outras notícias estavam em grande destaque (ainda que um não fosse chamada de primeira), com respectivos desenvolvimentos nas páginas 5, 11, 10 e 8, respectivamente, programas de apoio ao emprego, a limpeza da poluição na praia do Porto Santo, o Carnaval e, ainda, a viagem para a Madeira do catamarã ‘Pátria’, que viria a fazer as ligações com o Porto Santo.

“Recursos de meio milhão para empregar 1.200 pessoas” era o título do trabalho desenvolvido na página 5, na qual a Secretaria Regional da Educação, Juventude e Emprego vai combater o desemprego com um programa específico que tem por suporte financeiro cerca de meio milhão de contos (perto de 2,5 milhões de euros na moeda corrente) dos fundos comunitários. As acções a desenvolver beneficiarão cerca de 1.200 pessoas. Aumentar o nível de emprego e proporcionar a inserção profissional dos jovens faz parte do programa ontem divulgado. A formação profissional e o desenvolvimento de iniciativas empresariais também se inserem nas acções a desenvolver.” Resumindo, um programa que visava apoiar os cerca de 13% de um total de 9 mil desempregados existentes na Madeira no 1.º trimestre desse ano, região que tinha uma população de 282,1 mil habitantes, quase 132 mil estavam activos e tínhamos uma taxa de desemprego de 6,8%. Actualmente (4.º trimestre de 2019), temos 252,7 mil habitantes, 137,7 mil activos e a taxa de desemprego é de 7%.

O outro tema, a ler na página 11: “Máquinas francesas para peneirar a areia” por causa do “Crude na praia”. E qual? A do Porto Santo, atingida em 16 de Janeiro de 1990 pelo derrame no mar ocorrido a 29 de Dezembro de 1989, de 25 mil toneladas do petroleiro espanhol ‘Aragon’. “Duas máquinas especiais francesas chegam na próxima semana ao Porto Santo para peneirar a areia da praia contaminada por milhares de pequenas bolsas de crude. Martins Cartaxo, responsável pelo gabinete coordenador reuniu ontem no Porto Santo com o comandante-chefe da Zona Militar da Madeira, brigadeiro Rodrigues Areia, e no final anunciou que as seguradoras do ‘Aragon’ vão adiantar cerca de 15 mil contos (74,8 milhões de euros actuais) para pagamento das primeiras despesas com material e pessoal envolvido na limpeza. Entretanto, na Serra de Fora o mar voltou a bater... nas rochas”.

Um tema que é sempre actual, aliás renovado a cada ano por ser das festividades que dura no tempo. “Fantasia carnavalesca esta noite na rua”, era o título, acrescentando-se que “o irreal vem esta noite para a rua com o fito de divertir. Na cidade a alegria será transbordante. Os confétis e serpentinas soltar-se-ão, e o cortejo, das seis troupes barulhentas e fantásticas, será assim festejado em apoteose”. Não resistimos a deixar à sua leitura este excerto do artigo na página 10. “O irreal vem para a rua, com o fito de divertir os mais sorumbáticos, ou os menos votados à folia carnavalesca. Seguramente há nestes dias menos tristeza! ... Pelo menos, julgamos ser essa a função principal da época do entrudo. E o cortejo? Engenhoso, colorido, barulhento, em suma, fantástico, tal como tem sido noutras jornadas, o desfile vem de se ultimar para encher de júbilo e alegria uma cidade inteira. Cerca de 1800 figurantes, logo pelas 21 horas, desfilarão subdivididos por seis trupes, enchendo o corredor da multidão postada pelas principais artérias desta cidade, cuja terra é também conhecida já desde há muito através do cartaz de Carnaval”, descreve a previsão na altura do grande cortejo de sábado.

Não podíamos terminar sem o tema a ler na página 8. “‘Pátria’ parte terça-feira da Ilha de Wight em direcção à Madeira”, foi o título. “O navio catamaran ‘Pátria’, que fará as ligações entre a Madeira e o Porto Santo, e vice-versa, deixa a Ilha de Wight, no Reino Unido, na próxima terça-feira, com destino à Região”, onde deveria chegar em cerca de uma semana”. Enquanto isso, o ‘Independência’, o outro catamarã interilhas, estava a sofrer remodelações.