O sistema regional de saúde em imobilidade prolongada

Quantos actos médicos (cirurgias, consultas, exames) foram adiados e o que é que está a ser feito para diminuir as listas de espera que aumentaram neste período de pandemia?

Sabemos que os serviços de assistência diminuíram e que a travagem provocada pela pandemia não explica tudo, apenas agravou a situação caótica que se vivia no setor da saúde.

O sector da saúde é a situação mais delicada e difícil deste Governo Regional (GR): Listas de espera que aumentam a cada ano; ausência do cumprimento dos tempos máximos de espera; dezenas de milhares de cidadãos sem médico de família há décadas; centros de saúde com enormes deficiências na prestação de cuidados primários de saúde; dificuldade em encontrar soluções para minimizar a incapacidade de respostas para o sector.

Foi publicitado que a mortalidade aumentou no primeiro semestre de 2020, em relação a anos anteriores. Contudo, nesta contabilidade não foram registados mortos por Covid-19. A explicação/justificação só pode ser a falta de assistência e de diagnóstico aos doentes “afastados” das consultas de rotina.

Embora o GR tenha demonstrado um desempenho positivo no período de confinamento, continua a manifestar incapacidade e insensibilidade crónica na área da saúde pública regional. Respondeu bem ao Covid-19, mas desprezou os restantes utentes do Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (SESARAM) e mostrou-se incapaz de dar uma resposta continuada sem que surgisse o efeito de negligência.

A quarentena e o confinamento obrigatório lesaram muitos doentes crónicos. Foram adiados milhares de consultas, exames e cirurgias. A quantas pessoas foi negligenciado o serviço de saúde, cujo prognóstico se agudizou?

O vírus socorreu a gestão do “deixa andar” e certificou a negligência passiva dos melhores subservientes do GR. Nada justifica o marasmo e a incapacidade do SESARAM.

As listas de espera eram uma tragédia, agora agravada. Poderia ter sido possível encontrar outra logística para minimizar os efeitos colaterais do Covid-19, se este fosse tratado paralelamente sem o encerramento das consultas externas e outras actividades assistenciais hospitalares.

Foram os profissionais de saúde (enfermeiros e médicos) que estiveram sempre de serviço a resolver muitos dos problemas e sustiveram a dignidade do hospital central e a segurança de muitos doentes que não têm alternativa, seja pelo baixo rendimento (salário e reformas de miséria), precariedade, desemprego, situação de layoff, seja pelo fadário de uma doença crónica ou incapacitante.

Em números redondos 21 mil madeirenses esperam mais do que o aceitável por cirurgias, 40 mil aguardam por uma consulta e 16000 por exames médicos. Se já era alarmante esta situação, demonstrativa da incapacidade do GR em resolver o problema, só podemos imaginar o futuro da saúde regional.

A região está longe de prestar um serviço minimamente capaz e a situação actual piorou o que já era insuficiente. O sistema de saúde, agora praticamente resumido ao combate ao Covid-19, continua sem capacidade de responder às necessidades da população. Contradizê-lo é não ter noção da gravidade da situação.

O vírus não matou, mas fragilizou ainda mais a capacidade de resposta do SESARAM. Faltam recursos nos hospitais e nos centros de saúde, não raras vezes o terreiro promíscuo do sector privado, graças a uma administração que não controla por inação e que gasta mais em betão do que em recursos hospitalares.

Se no passado era imprescindível uma melhor organização e gestão da saúde, a actualidade impõe, definitivamente, a necessidade de um forte investimento na saúde pública. Haja vontade!

Rui Ferrão

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