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May e Corbyn admitem que ‘Brexit’ contribuiu para maus resultados eleitorais

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O ‘Brexit’ foi um fator que contribuiu para os maus resultados dos principais partidos britânicos nas eleições locais de quinta-feira, admitiram hoje a primeira-ministra e líder do partido Conservador, Theresa May, e o líder Trabalhista, Jeremy Corbyn.

“Estas iam ser sempre umas eleições difíceis para nós e tivemos uns resultados muito complicados na noite passada. Mas foi um resultado mau para o partido Trabalhista também, e penso que as pessoas estão a enviar uma mensagem muito clara para ambos os principais partidos para avançarem e concretizem o ‘Brexit’”, comentou May.

Também Corbyn, reconheceu que além dos fatores locais, os eleitores mostraram que discordam dos dois partidos devido à atitude no processo de saída do Reino Unido da União Europeia.

“Claro que queríamos fazer melhor. Nós sempre queremos fazer melhor. É por isso que estamos na política”, disse à BBC.

Os resultados provisórios das eleições autárquicas de quinta-feira mostram que, contabilizados os boletins em 172 de 248 concelhos em Inglaterra que foram a votos, o partido Conservador perdeu 790 lugares e o partido Trabalhista 86.

Pelo contrário, os Liberais Democratas (’Lib Dems’) ganharam 459, o partido Verde 121, os candidatos independentes 363, mas o eurocético UKIP perdeu 84.

O ‘Labour’ perdeu a maioria nos concelhos de Bolsover, Hartlepool e Wirral, no norte de Inglaterra, mas ganhou Trafford aos ‘tories’, enquanto que o partido Conservador reforçou-se em Walsall, mas perdeu em Peterborough, Basildon ou Saint Albans.

O líder dos ‘Lib Dems’, Vince Cable, considera que os eleitores britânicos “enviaram uma mensagem clara de que não têm mais confiança nos conservadores, mas que também estão se recusam a recompensar o ‘Labour’ enquanto o partido prevaricar sobre a grande questão do dia: a saída da União Europeia ou ‘Brexit’.

Para os Verdes, que só tem um deputado eleito e é uma força minoritária, estes são resultados históricos e que posicionam o partido como uma alternativa não só na política ambiental, mas também nas questões sociais.

“Claro que o ‘Brexit’ também desempenhou um papel significativo nessas eleições. Os Verdes têm sido claros em defender a permanência do Reino Unido na União Europeia e continuarão a fazê-lo”, afirmou o co-líder, Jonathan Bartley.

Representantes do partido Conservador e do partido Trabalhista manifestaram publicamente a frustração com estes resultados.

Num congresso do partido Conservador no país de Gales, Theresa May foi apupada por um militante para demitir-se, enquanto que, no partido Trabalhista, Corbyn foi acusado de ser demasiado ambivalente tanto por defensores como por opositores ao ‘Brexit’.

“Somos o único partido que procura apelar a pessoas independentemente da forma como votaram [no referendo] em 2016 e garantir a defesa dos empregos e das condições de trabalho neste país”, vincou hoje Corbyn.

Mas a deputada Ruth Smeeth, representante da região de Stoke-on-Trent, onde cerca de 70% dos eleitores votaram pela saída da UE, afirma que os locais “não acreditam que vamos concretizar o ‘Brexit’”.

Além de um mau resultado do centro de Inglaterra, contou na BBC que os eleitores decidiram manifestar o desagrado escrevendo nos boletins, declarados nulos, “não confiamos em vocês” ou UKIP, mesmo quando este partido eurocético não tinha candidatos.

“Existe frustração com a ideia de que os abandonámos e andarmos a brincar não ajuda”, lamentou.

O dissidente trabalhista, atual deputado independente e representante do partido recém-formado Change UK, Chuka Umunna, argumentou que o resultado das eleições locais “mostram que as pessoas acreditam, como nós, que a política falhou no Reino Unido e que os dois principais partidos são responsáveis”.

O politólogo Tony Travers, professor na universidade London School of Economics, acredita que pode interpretar-se que os eleitores querem que o país saia do impasse em que está o ‘Brexit’ e que os dois principais partidos políticos britânicos ficam sob pressão para chegar a um entendimento antes das eleições europeias, a 23 de maio.

Se até lá o parlamento britânico não aprovar um acordo de saída, o Reino Unido mantém-se como Estado membro e é obrigado a realizar eleições para o Parlamento Europeu, uma condição do Conselho Europeu para oferecer um adiamento da data de saída, inicialmente prevista para 29 de março, até 31 de outubro.

Travers admite que, se o partido Brexit, do eurocético Nigel Farage, e o Change UK tivessem concorrido nestas eleições, “teriam prejudicado os partidos Conservador e Trabalhista ainda mais” devido “ao desencanto com a política em Westminster que fragmentou os votos e beneficiou Liberais Democratas e Verdes, mas não o UKIP”.

Na quinta-feira realizaram-se também eleições autárquicas nos 11 concelhos da Irlanda do Norte, cujos boletins só começaram a ser contados hoje, o que, somando ao facto de usarem um modelo diferente de votação de voto transferível, deverá demorar o apuramento dos resultados.