7.º Piso Poente

Em menos de 20 minutos tudo mudou. De um anfiteatro assistindo a uma conferência, passei para as cadeiras e os corredores apinhadíssimos de gente na urgência do Hospital Dr. Nélio Mendonça. Pela primeira vez na minha vida entrei na urgência daquela casa. Na triagem deram-me uma classificação amarela, percebi que era urgente, mas ainda me disseram que devia ser stress ou ansiedade, não deviam ter dito!

Em 5 ou 6 horas, depois de exercícios neurológicos, muitas perguntas, análises e uma TAC, o médico na urgência (João Gaspar) explicou-me o que se estava a passar comigo, explicou-me a imagem da TAC e, numa voz segura, com uma calma e profissionalismo inabaláveis, disse-me que tinha de ficar internada na Neurocirurgia e que outro médico (Pedro Lima) estava a minha espera no 7º piso, Poente. Primeiro o choque e a negação, depois a aceitação ... deixei-me levar e já na Neurocirurgia o médico Pedro Lima explica o que tenho e o que vai ser feito. Assim, sem hesitações, seguro do que dizia, confiei e fiz perguntas e mais perguntas, acreditei nas mãos e no saber daquela equipa! Pedi um calmante ... e passei a ser a Sra D. Maria da cama 3.

Durante 15 dias tratei com respeito e educação todos os profissionais que se cruzaram comigo, recebi cuidados, carinho, respeito, educação e um profissionalismo de excelência que oferece confiança a quem está fragilizado; estar ali não é propriamente estar num hotel de 5 estrelas ou num “tudo incluído”, embora muitos pacientes e familiares pensem que sim.

Em 15 dias vi a forma como eram tratados outros doentes, o cuidado que recebiam, as palavras de incentivo que cada profissional tinha para com eles e às quais, por vezes, recebiam em troca palavras rudes e desagradáveis.

Agradeço a entrega e o profissionalismo, a sensibilidade e o cuidado demonstrado por toda a equipa da Neurocirurgia desde os médicos aos enfermeiros, dos auxiliares aos administrativos que trabalham naquele piso diariamente. A todos os que no 7 andar Poente se encontram internados

No dia em que vim embora para o conforto de casa, curiosamente chorei e trouxe comigo a gratidão, os abraços e sorrisos de verdadeiros exemplos de quem faz do seu trabalho uma entrega constante à dor do próximo.

Temos na Madeira muito bons profissionais na saúde, é só deixa-los trabalhar; numa casa grande, com muita gente e muitas áreas e interesses para gerir; e gerir é também ter e provocar contrariedades, encontrar equilíbrios, usar o bom senso, e saber separar o principal do acessório, é saber que resposta dar e como dar sem comprometer a verdade dos factos e a verdade dos profissionais envolvidos.