Mil e uma maneiras de dar a volta à Madeira

Catamarãs, tuk-tuks, jeeps e muito mais. Ao todo são 270 as empresas de animação turística existentes na Região para dar resposta às dezenas (no Verão centenas) de turistas que diariamente procuram novas formas de conhecer a ilha

Bill e Gail, um casal de turistas britânico que decidiu experimentar a nova atracção da 'Baixa', as ‘Trike Tour’. Ver Galeria
Bill e Gail, um casal de turistas britânico que decidiu experimentar a nova atracção da 'Baixa', as ‘Trike Tour’.

Hoje é Janeiro e está um frio de rachar (uns ‘frescos’ 16ºC), longe vão os dias soalheiros de Maio. Ainda assim, junto à Marina do Funchal, recém-chegados dos cruzeiros ou acabados de sair do hotel, dezenas de turistas encontram na Baixa da cidade o ponto ideal para partir à descoberta da ilha. E aqui não falta oferta para fazê-lo, seja por terra ou mar.

Há passeios de tuk-tuk, circuitos em autocarros panorâmicos, bicicletas para alugar, viagens de catamarã, veleiro e caravela, excursões de Jeep Safari ou canyoning para os mais radicais e, mais recentemente, as ‘Trike Tours’, entre as diversas actividades que são actualmente disponibilizadas pelas empresas de animação turística na Madeira.

Os preços variam em média entre 35 a 40 euros por actividade, mas há algumas que são “mais dispendiosas”, explica Omar Gama, funcionário do posto de informação turística da Frente Mar Funchal. É o caso do canyoning (desporto de montanha que se desenvolve no leito de uma ribeira e envolve caminhar, saltar, fazer rappel e nadar para ultrapassar os obstáculos naturais), uma “actividade muito mais radical” que tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos entre os visitantes da ilha.

No que toca ao número de turistas que recorrem diariamente ao posto, Osmar aponta “cerca de 20 pessoas por dia” nesta altura do ano. A paragem do Lobo Marinho durante o mês de Janeiro é “outro senão” para estas empresas na época baixa. “Perdemos aí uma margem de vendas”, lamenta.

De acordo com os vários agentes de animação que fomos abordando ao longo da promenade, o cenário só começará a inverter-se lá para meados de Maio. “No verão são mais de 100 por dia”, testemunha Osmar Gama.

Não muito longe do posto de informação onde trabalha Osmar encontramos o grupo de Ana Isabel, uma jovem madeirense que veio acompanhar os familiares vindos de Africa do Sul num passeio de catamarã.

“Basta vir cá em baixo, tem estas barraquinhas e as pessoas todas chamam”, comenta Ana a propósito da oferta de actividades de animação turística. Osmar confirma que “o grosso dos clientes é angariado aqui na área”.

Ana Mendonça, ao balcão de atendimento da VMT Madeira (Viagens Marítimo Turísticas da Madeira), situado em plena Marina do Funchal, conta uma história diferente. “Já não é bem assim, muitos turistas vêm com as viagens organizadas pelas agências. Outros passam cá, mas depois optam por reservar online”, observa a agente da empresa que vende passeios de catamarã, entre os quais a popular viagem para observação de cetáceos.

Estamos a chegar às instalações e mal temos tempo de abordar um casal de turistas, que nos deixa para partir no catamarã. “A partir de Maio há muitos franceses, espanhóis e também portugueses do continente. De fora da Europa começam a vir também alguns americanos. Agora são sobretudo turistas ingleses, alemães e também alguns turistas provenientes da Escandinávia, que vêm para ‘fugir ao frio’”, revela Ana Mendonça.

É o caso de Dort Damm e do marido, que vieram da Dinamarca para passar uma semana de férias na Madeira. “Ouvimos falar da ilha pelas flores, pela beleza e pela Natureza e quisemos vê-la. Já experimentamos o teleférico, visitámos o Jardim Botânico, os Jardins Orientais, a Igreja da Sé e o Mercado, enumera a dinamarquesa. “Também já estivemos numa ‘tour’ pela zona Este da ilha e amanhã vamos fazer outra pela zona Oeste. As viagens foram todas agendadas pela nossa agência”, acrescenta.

Bill e Gail são outro simpático casal, vindo do Reino Unido. Fomos encontra-los curiosos junto às recentes ‘Trike Tours’ (passeios em redor da ilha em triciclo motorizado), que começaram a funcionar há cerca de dois meses.

“Somos de Inglaterra, estamos hospedados na Calheta e já estivemos na Madeira duas ou três vezes. Já fizemos o passeio para ver as baleias e a viagem de teleférico”, relatam. Bill realça que há “bastante variedade” de atracções.

Sector em crescimento “exponencial”

De acordo a Direcção Regional do Turismo, até 31 de Dezembro de 2018, estavam registadas na Região 270 as empresas de animação turística.

Destas 209 foram registadas como empresas de animação turística e 61 como operadores marítimo-turísticos. Para além dos operadores marítimo turísticos (puros) existem ainda outras 29 empresas (registadas como de animação turística) que conciliam atividades marítimo-turísticas com outras atividades de animação de âmbito cultural, de ar livre, de natureza e/ou de aventura.

Atendendo às características da Região, as actividades acabam por ser prestadas em todo o território. O Funchal destaca-se com mais de metade das empresas sediadas no concelho. Seguem-se: Santa Cruz (com 51), Calheta (20), Machico (16), Porto Santo (10), Ponta do Sol (8), Câmara de Lobos (6), Porto Moniz (4) e Ribeira Brava, São Vicente e Santana (com 2 cada).

O primeiro licenciamento para a prestação de actividades de animação turística na Madeira, efectuado através do Registo Nacional dos agentes de animação turística (RNAAT), deu-se em 2001. Mas é após 2008 (ano em que surge a primeira legislação regional sobre esta matéria) que se verifica um grande incremento na vertente de animação turística, com taxas de crescimento de agentes económicos que estão autorizados a prestar actividades de animação turística muito expressivas.

Entre 2015 e 2018, o número de empresas de animação turística cresceu 30% na Região. Se olharmos para trás, em 10 anos este aumento torna-se exponencial. De 57 empresas licenciadas em 2008 passámos para quase o dobro (108) em 2010, voltando a duplicar em 2014 (com 180 empresas registadas).

“Esta evolução reflecte a dinâmica da nossa oferta complementar, assim como a sua qualificação e especialização para melhor corresponder às necessidades e expectativas dos nossos turistas, que são cada vez mais activos no nosso destino”, sublinha a Secretaria Regional do Turismo e Cultura. Por outro lado, “reflecte, igualmente, a confiança dos nossos empresários no desenvolvimento dos seus projectos de negócio, confiança que contribui, ao mesmo tempo, para a necessária diferenciação do nosso produto e para a maior valorização e descentralização da nossa oferta” e contribui ainda “dinamizar a economia local”, vinca o executivo.

Turismo rendeu quase 600 milhões

Segundo dados da Conta Satélite do Turismo da Madeira (uma ferramenta de estatística que pretende medir a importância do sector na economia portuguesa), o Valor Acrescentado Bruto gerado pelo Turismo (VABGT) atingiu, em 2015, 15,9% do Valor Acrescentado Bruto (VAB) da economia regional, ascendendo a um total de 591,3 milhões de euros. A Madeira destaca-se também por ser a região da Europa com maior VABGT.

O peso do consumo do Turismo no território económico (indicador que resume a procura turística), rondou os 1 128,5 milhões de euros, o que corresponde a 26,6% do Produto Interno Bruto (PIB) da Região. Uma percentagem bastante superior à nacional que não ultrapassa os 12,2%.

Por sua vez, o emprego nas actividades características do turismo representou 16,7% do emprego total regional (19.981 postos de trabalho). No emprego, o peso das actividades características do Turismo no total é igualmente mais elevada na RAM (16,7%) do que no país (8,9%).

De referir ainda que o gasto médio diário per capita de um turista era de 123,94 euros (valor apurado em 2016).