Crónicas

Bipolarização, NÃO OBRIGADO!

E quais são as escolhas? Os madeirenses têm 3 opções: a desilusão do PSD, a ilusão do PS e a Esperança do CDS

Há uma tendência nas Democracias para reduzir o poder de escolha dos cidadãos nas eleições a duas forças políticas. A situação não é nova, em particular na Europa, onde no século XX, após a segunda grande guerra, emergiram duas grandes famílias ideológicas: a democracia-cristã e a social-democracia, com variantes nalguns países entre conservadores e socialistas e no caso dos Estados Unidos, entre os Republicanos e os Democratas. Esta visão redutora da Democracia estendeu-se depois a outros continentes, nalguns casos com sucesso, noutros constituindo um autêntico fracasso como são os casos de vários países africanos e latino-americanos. A verdade é que esta bipolarização forçada, muito alimentada pelos alemães e pelos norte-americanos com vultuosos financiamentos partidários, e fomentada mediaticamente por poderosos lóbis, foi um dos segredos do sucesso da paz e da prosperidade na Europa, mas está hoje esgotada face à crise de representação nas Democracias europeias. A pura Alternância entre dois partidos, deixando de fora vastos setores da sociedade e uma generalizada corrupção dos sistemas políticos, com descrédito dos eleitos e afastamento dos eleitores, provocou o colapso dessa bipolarização entre os partidos tradicionais e dessa visão redutora dos sistemas políticos. A derrocada dos regimes comunistas, com a vitória do capitalista e da economia de mercado e a diluição das fronteiras ideológicas vieram matar esta dicotomia direita-esquerda.

Hoje, os cidadãos já não se revêm no modelo de Democracia representativa e exigem outras opções políticas e outras formas de participação na política, não reduzindo a sua ação aos atos eleitorais. Daí o aparecimento de novas forças políticas, à esquerda e à direita, de movimentos populistas e de partidos extremistas e radicais, tentando dar resposta ao descontentamento dos cidadãos e às necessidades de renovação reclamadas pelas elites. Se nalguns casos, essas novas forças vieram contribuir para a regeneração da política e para a reconciliação entre eleitores e eleitos, de que os melhores exemplos são o partido Ciudadanos de Albert Rivera na Espanha e o Movimento En Marche do Presidente francês, Emmanuel Macron, noutros casos, constituíram autênticas aventuras populistas como o Podemos espanhol ou o Movimento 5 Estrelas do comediante Beppe Grillo na Itália. Estes últimos partidos anti- sistema, podem ter muita graça e até alguma sedução, mas vivem do protesto e da farsa e podem ser muito perigosos quando ganham poder ou chegam a lugares de governação. Normalmente, fazem muito pior do que os chamados partidos tradicionais, mas enquanto não são testados vão-se alimentando eleitoralmente da promessa fácil e populista. O mesmo se diga da emergência de partidos de extrema-direita que, aproveitando-se da grande vaga migratória que invade a Europa e da crise nalguns setores do operariado, cavalgam o racismo e a xenofobia e atingem resultados eleitorais preocupantes. O fenómeno Trump, pouco compreendido no velho continente, é um produto que tem a sua génese numa América profunda que não se sente representada em Washington, nem por Republicanos nem por Democratas, e que perdeu poder económico com a globalização.

A Reforma da Democracia, não se pode fazer, acentuando a bipolarização, porque isso afunila as opções de escolha dos cidadãos e dá origem ao aparecimento destes epifenómenos radicais e perigosos para a estabilidade política e social das comunidades. É assim, também na Madeira. Querer reduzir as próximas eleições regionais a uma escolha entre PSD e PS, ou entre Miguel Albuquerque e Paulo Cafofo, é redutor e pode levar a excessos de concentração de poder arriscados que nós tão bem conhecemos e cujas consequências lamentamos e ainda pagamos.

A Europa que integramos já percebeu esta realidade e a verdade é que 24 dos 28 países que compõem a União, são governados por coligações de 2 ou mais partidos. Fortalece a Democracia, garante uma Governança mais equilibrada, assegura maior transparência e evita os abusos de poder. Claro que há partidos com maior propensão e preparação para governar, pelos seus programas e quadros, e outros que, legitimamente, nasceram para estar na oposição, recusando-se a assumir poder, mas que representam franjas importantes da população. E aqui nasce aquilo a que em Portugal se convencionou chamar de “arco da governabilidade” e que é constituído pelo PSD, o PS e o CDS. Não é por acaso que o PCP e o Bloco não integram o Governo da República, apesar de o apoiarem. Na Madeira, só governou o PSD, mas é óbvio que a sua maioria absoluta já era e que das próximas eleições sairá um Governo de coligação. Resta saber que partidos a vão integrar e que força terá cada um nesse Governo, na certeza de que quanto maior o equilíbrio entre eles, melhor será a governação da Região.

E quais são as escolhas? Os madeirenses têm 3 opções: a desilusão do PSD, a ilusão do PS e a Esperança do CDS. Do seu voto dependerá o próximo Governo da Região.