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Portugal a envelhecer rapidamente e as “altas problemáticas”

Quando me sentei em frente do computador para escrever este artigo de opinião, tentei encontrar na internet uma reportagem sobre uma idosa de 93 anos que dava aulas de ioga. Para minha surpresa apareceram-me diversas notícias sobre uma idosa de 98 anos que ensinava ioga e que se mantinha ativa com todas as suas capacidades... desisti de procurar a reportagem desejada pois tinha encontrado uma das muitas notícias sobre idosos de mais de 90 anos que se encontram muito bem e ativos. Por estranho que pareça, dada toda a visibilidade que lhes é dada, estes idosos são uma minoria e a maioria são pessoas com muitas limitações e problemas de saúde.

A minha Avó que viveu sempre sem grandes problemas de saúde e limitações até quase aos 91 anos, corrigia e os que lhe diziam que estava muito bem, dizendo: “Estou muito bem para a minha idade” e explicava-me que o estar bem naquela idade não tinha nada a ver com o estar bem na idade que eu tinha na altura (a nossa diferença de idade era de precisamente 50 anos).

Os estudos sobre o envelhecimento têm mostrado que se, por um lado, é verdade que mais pessoas vão atingir idades muito avançadas, por outro, grande número dessas pessoas (talvez a maioria) vão estar muito debilitadas e totalmente dependentes de terceiros. Essas pessoas são dos grupos mais vulneráveis das sociedades modernas que, para se continuarem a orgulhar de serem civilizadas, têm que encontrar modos de as proteger e garantir-lhes a qualidade de vida que todos merecemos.

As chamadas “altas problemáticas” são na maioria idosos com muitas limitações e totalmente dependentes. Entraram nos hospitais por alguma razão que o justificasse o internamento, depois a Medicina fez o que podia e até onde podia e nesta altura não pode fazer mais nada e não se justifica a permanência do idoso no hospital... mas fica porque não tem para onde ir.

Só quem não está próximo da problemática do envelhecimento é que não está consciente que a grande maioria das famílias não tem capacidade financeira para cuidar de um idoso dependente, pois tal implica ter alguém disponível em permanência para idoso para além das múltiplas despesas que a situação de dependência acarreta. A juntar à dificuldade financeira temos o facto de grande número de famílias não ter condições habitacionais para ter o idoso e muitas não têm capacidade psicológica para o acompanhar ... como me disse uma vez uma profissional de saúde: “Pense na alegria que os Pais têm ao ver, cada dia, que o filho sabe fazer algo mais. Agora pense na situação inversa de um filho ou filha ver o Pai ou a Mãe, a cada dia, a perderem uma capacidade das poucas que ainda lhes restam e compreenderá a dor que a situação acarreta.”. Por isso não culpem as famílias e tentemos, como sociedade, encontrar/construir soluções condignas para os nossos idosos, envolvendo as famílias com certeza, e, por favor, não empurrem os idosos para fora dos hospitais sem terem a certeza que vão para melhor!