Sempre Unidos
Querido e bom amigo P.e Giselo!
Eu estou convencido que conhece o Arcebispo Fulton Sheen. Eu já estava na Califórnia quando ele faleceu. O Fulton Sheen paralisava a América durante o seu programa de Televisão que tinha o título de “Vale a Pena Viver”. Ele foi um dia falar à prisão a centenas de reclusos condenados por alta criminalidade. Iniciou a sua conferência com estas palavras:
“Vocês sabem qual é a diferença que há entre mim e vocês? A diferença que há entre mim e vocês é que vocês foram apanhados e eu não”.
De uma maneira ou de outra todos estamos no mesmo barco. O “bode expiatório” não é só dos tempos bíblicos. A indiferença perante a chacina do aborto na Diocese do Funchal, a indiferença perante os sem abrigo, perante as centenas de pessoas que morrem de doenças curáveis, simplesmente porque vão ao médico mas não têm dinheiro para comprar os remédios, famílias que vivem às escuras porque não têm dinheiro para pagar a electricidade, tantas pessoas que são descartadas, humilhadas e maltratadas pelas instituições de solidariedade, esses malditos cruzamentos de dados que põem um computador a decidir se uma criança tem fome ou não. Isso é insignificante. Isso não tem importância. A indiferença da Igreja e da sociedade perante estas situações imorais é uma aberração criminosa e pecaminosa mas porque toda a gente faz já não se faz caso. Nenhum de nós é “apanhado” a ser indiferente ao sofrimento dos outros. Já não é notícia. Já é normal. Então quando aparece uma oportunidade destas, é aproveitada para mostrar a “boa imagem” da Igreja e a “boa imagem” da sociedade. Para isso o mais fácil é arranjar um bode expiatório. Há tempos lia numa publicação estrangeira que “Na sociedade de hoje a imagem não é a coisa MAIS importante. A imagem é a ÚNICA coisa importante”. A preocupação maior deverá ser projectar uma boa imagem de nós mesmos e das instituições a que pertencemos. O sofrimento dos outros é insignificante. Isso não nos tira o sono. Isso não tem valor.
P.e Giselo eu considero que estas últimas decisões foram tomadas para salvar a imagem e não para salvar as pessoas. Ninguém vai ganhar com isto. Jesus sempre denunciou a preocupação pela “boa imagem dos fariseus” e sempre promoveu a “Misericórdia, a tolerância, a amabilidade e o perdão “. (Gal. 5, 22-23). Na Igreja Católica, incluindo a minha pessoa, os compromissos que têm sido mais violados não têm sido os compromissos sacerdotais mas os compromissos do nosso Baptismo. O Papa pode dispensar-me das minhas responsabilidades sacerdotais, mas ninguém, ninguém neste mundo nem no outro me pode dispensar das responsabilidades do meu Baptismo. O maior pecado de nós os Católicos é a indiferença pelos compromissos do nosso Baptismo. E um dos compromissos fundamentais do nosso Baptismo é cuidarmos uns dos outros. Mas nisso nenhum de nós é “apanhado” porque “os pobres são pobres porque querem”. Nenhum de nós é “apanhado” a lavar as mãos. A maior responsabilidade de um padre não é baseada na Ordenação mas no Sacramento do Baptismo. E isso abrange todos e em vez de atirarmos a primeira pedra é mais importante darmo-nos as mãos e caminharmos juntos, aliviando o sofrimento uns dos outros, promovendo a esperança e a alegria de viver.
Como recordação queria deixar-lhe o título de um livro que lhe quero oferecer: “NÃO COMECES A DESISTIR, NUNCA DESISTAS DE COMEÇAR”.
Coragem, P.e Giselo. Deus está consigo e nós também. Um grande abraço com toda a ternura maternal do Bom Pastor (Lc. 15).