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Laboratório desportivo

Portugal está na moda, os Açores estão na moda e a Madeira está na moda! Bom será, que não seja como as outras modas ... que depois passam de moda! Mas, esta nova moda, mais recente, dá-nos muita visibilidade, ajuda á criação de iniciativas públicas ou privadas, serve ás mil maravilhas para o desenvolvimento e para a recuperação do país. Aproveitando esta boa vaga e uma boa capacidade organizativa, esteve em palco na Região um evento científico da Saúde, nas áreas da Ortopedia e da Traumatologia, que merece a nossa atenção e reconhecimento, e até, representa uma honra poder receber, tantas sumidades europeias e mundiais, ao mesmo tempo. Esse palco foi o Estádio dos Barreiros e o evento foi um Congresso de Artroscopia, ou seja, cirurgia artroscópica.

Mais uma vez se constata e confirma que, a actividade desportiva é um ambiente muito importante para o estudo, conhecimento e compreenção de muitas doenças ou patologias. Serve para as reconhecer, para as estudar ... e temos ao nosso dispor, muitos atletas - sejam de que nível ou modalidade forem - que funcionam como os alvos preferenciais para esse trabalho de investigação. Atletas que por motivos inerentes á sua actividade, podem ter traumatismos, uns directos, outros por movimentos repetidos, ainda outros pelas cargas a que estão sujeitos. Estes organismos quando estão lesados, têm de recuperar dos 10 ou 20% das suas capacidades, para os 100% - porque o praticante desportivo ou está perto dos seus máximos pessoais ... ou não serve aos objectivos. Os dele e os de quem ele representa ou para quem trabalha! Daí a necessidade de actuar na perfeição máxima para uma reabilitação, sempre o mais perto dos 100%. Nesta reunião científica estiveram os melhores especialistas - que actuam por zonas do corpo humano - no ombro, no joelho, no tornozelo, na anca, de tal modo que ao se sub-especializarem conseguem atingir os melhores objectivos - que são as melhores performances atléticas dos seus “pacientes”. Aqui, nesta reunião de 3 dias, estiveram esses técnicos, e, bem hajam todos eles, por se reunirem na nossa casa, para assim podermos disfrutar de muita sabedoria e de muita informação e conhecimento. Conhecimentos, que depois irão servir para a população em geral, usufruir em seu benefício. Tudo funciona como se a actividade desportiva representasse um laboratório imenso, onde situações extremas, são corrigidas, ao pormenor, com a perfeição adequada, de modo a permitir a função, a técnica gestual e a qualidade ao mais alto nível - como o era antes. Bem hajam os organizadores, desta reunião, quando se lembraram em trazer esta “nata” toda, para a nossa ilha presenteando-nos, com um mar de conhecimentos ... normalmente só possível nas grandes capitais europeias. Estou a fazer aqui, um retrato daquilo que observei, e que ouvi ... estou a fazer jus e a elogiar aquilo que acho que deve ser reconhecido.

Deste lado do Atlântico o encontro de técnicos de alta qualidade, do outro lado na capital, um acidente fatal - um atleta de alta competição que falece, após efectuar um treino/jogo de alto rendimento. São os nossos números: ou 8 ou 88! A organização técnica do nosso país, não cumpre as regras, é facilitadora, não liga, não fiscaliza e entrega as responsabilidades a pessoas menos habilitadas. Deixa essas responsabilidades, aos cidadãos, aos pais, aos técnicos desportivos, que na realidade não possuem conhecimentos específicos. Há muitos locais do nosso pais, nacional e adjacente, em que a avaliação médico-desportiva é realizada, por técnicos, que nada estudaram dessas matérias. Nada conhecem para avaliar um corpo humano que realiza esforços máximos, como desconhecem os procedimentos analíticos que se devem efectuar. E os pais, os familiares e os dirigentes desportivos, não se importam ... e assim os “facilitadores” tudo resolvem ... desde mudar uma lâmpada a conduzir um avião, passando por realizar um exame a um atleta de alto nível.

A Direcção Geral da SAÚDE tem como responsável na Área de Promoção da Actividade Física um Professor de Educação Física e a Prescrição do Exercício não passa antecipadamente por uma consulta médica especializada. Se os candidatos desportivos federados ou não, fazem alguma medicação permanente - como tanta gente faz - quem avalia os efeitos colaterais e as implicações orgânicas desses medicamentos? Médicos ? E especialistas em quê? Outros técnicos?

Morrer aos 19 anos de idade, depois duma prova atlética, não é justo e não tem perdão para um país que não vigia as instituições, que não fiscaliza, que se esquiva permanentemente das suas responsabilidades. A fiscalização em Portugal só é realizada em “RARISSIMAS” situações. E percebem o que quero dizer!

O desporto dá saúde, mostra caminhos certos para a vida, deve ser utilizado por todos, é mesmo recomendado para todos, de modo adaptado e ajustado a cada um. Seja para saudáveis, seja para doentes! Mas, alguém capaz e conhecedor, tem de mostrar e escrever os limites, as barreiras, para não ocorrerem acidentes fatais, como este e outros que estão descritos.

A morte no desporto é um crime! E é assim que devia ser tratada!