Crónicas

4 dias sem telemóvel

Fiz mal em não aproveitar aqueles dias fora do Mundo mas deu para perceber uma coisa muito importante. A minha dependência excessiva e a forma como sem ele deixei de viver. Uma lição para mim

No domingo passado o meu telemóvel desligou-se automaticamente e não voltou a ligar. Ainda por cima eu estava fora. Desliguei, voltei a ligar várias vezes e ele dava sinal mas não passava daí. Como era domingo até achei piada. Era da maneira que ninguém me chateava e eu podia passar o dia sem estar preocupado com telefonemas , sem verificar redes sociais ou mails. E passou-se realmente bem. Estava com amigos e qualquer coisa sabia que podia ligar do número deles. Como sei o número dos meus Pais de cor isso chegava-me para ter o que realmente precisava. Certifiquei-me que estavam bem e simplesmente “desliguei”. Foram bons tempos em que nem me lembrei que estava incontactável. Confraternizei mais, estive mais atento às conversas e aproveitei os momentos de uma outra forma e isso, no fim do dia deixou-me extremamente satisfeito.

Os problemas começaram no dia seguinte quando acordei sozinho em casa. Era segunda-feira e existiam coisas para tratar. Uma vez que tinha o computador comigo pensei que não seria assim tão grave e rapidamente me habituaria a este novo formato. Como tenho a agenda no Iphone não consegui perceber o que tinha agendado para a semana e também não me recordava do que havia sido combinado. Tive então que me recorrer do Facebook para falar com o meu sócio. Precisei então de falar com um dos meus melhores amigos uma vez que havíamos combinado jantar mas não lhe podia ligar. Tentei a mesma rede social mas ele raramente lá pára por isso , de pouco me serviu. Decidi então ir ter com outro amigo que repara este tipo de aparelhos mas não sei bem onde mora. Aproveito sempre o Google Maps para lá ir dar e nunca me preocupei em decorar o caminho. Tive que voltar ao Facebook para ver se com ele tinha melhor sorte.

Após duas horas sem resposta lá me devolveu a mensagem e me disse para irmos almoçar que me ajudaria no que fosse preciso. Enviou-me novamente a morada que demorei a escrever num papel porque não sabia de nenhuma caneta e papel teve que ser nas costas de um recibo que era o que tinha mais à mão. Assim que peguei nesse precioso recorte (mais parecia um chapéuzinho amarrotado) fui para chamar um Uber para me deslocar mas, sem telefone não há Uber para ninguém. Resolvi então aventurar-me com o carro e depois de parar ao lado de duas senhoras e uma criança que passava de bicicleta a pedir indicações lá cheguei ao destino. Ele já me esperava sentado, tal como combinado.

Tentou então fazer-me um restauro do aparelho mas para tal era preciso que me lembrasse de duas perguntas chave que achamos sempre nunca servirem para nada. “Quem era o teu melhor amigo na adolescência?” e “Qual era a tua profissão de sonho?”. Errei. Ele tinha que ir trabalhar e eu regressei a casa à espera de notícias. Ainda tentei meter o cartão num telemóvel antigo mas os cartões agora são mais pequenos. Mesmo que o conseguisse hoje em dia falo quase sempre pelo WhatsApp por isso certamente que não receberia os contactos pretendidos. Recebi passadas umas horas uma mensagem dele na Rede a dizer que era preciso pagar uma instalação de um programa mas o meu cartão de crédito é da App MBWay e isso não dava para ter acesso. Ele disse que não havia problema que ele pagava e depois fazíamos contas. No dia seguinte voltei a ir ter com ele (já não me perdi). Após várias tentativas o código necessário estava nas notas do telemóvel , ou seja , não tinha acesso a ele. Voltei a casa irritado e farto de toda esta situação. Na quarta de manhã lembrei-me que tinha telefone fixo em casa!! (sim nunca lhe tinha pegado). Liguei para a Apple e depois de uma hora e meia avanços e recuos com um técnico simpático e paciente do outro lado, lá consegui o meu “mais que tudo” de volta. Hoje já não estou tão certo de que foi a melhor opção. Fiz mal em não aproveitar aqueles 3 dias fora do Mundo mas deu para perceber uma coisa muito importante. A minha dependência excessiva e a forma como sem ele deixei de viver. Uma lição para mim. Tenho que aos poucos voltar a fazer as coisas de uma forma mais equilibrada. E já comecei...