Mundo

Pouca afluência às urnas na Venezuela e população dividida sobre votar ou não

Hoje é dia da eleição do Presidente da República para o período 2019-2025

Foto REUTERS/Isaac Urrutia Jose Bula
Foto REUTERS/Isaac Urrutia Jose Bula

Os centros eleitorais na Venezuela registaram pouca afluência às urnas durante a manhã de hoje, dia da eleição do Presidente da República para o período 2019 - 2025, com alguns eleitores divididos sobre votar ou não.

Caracas acordou mais cedo que o tradicional aos domingos, pelas 05:00 horas, ao som do toque militar de “Diana” e da voz do falecido Presidente Hugo Chávez (presidiu o país entre 1999 e 2013) cantando “Pátria, pátria querida”, em sinal de chamada aos revolucionários para acudirem às assembleias de voto.

Mesmo acreditados, os jornalistas foram impedidos de recolher imagens das mesas de votação, estando limitados ao exterior e aos corredores das assembleias de voto. A exceção são os casos de políticos importantes a votar.

“Sou venezuelano, sim, vou votar. Espero que as pessoas também votem, porque este é um país livre e desejo o melhor (um melhor futuro), que o meu país prospere”, explicou um oficial de segurança à Agência Lusa e à Antena 1.

Domingo Peraldo frisou ainda não saber em quem votaria, decisão que ponderará até à tarde.

“Ainda não sei por quem votar. Há várias opções e irei pelas três horas da tarde”, disse.

Em Altamira, a leste de Caracas, Edgar Guerrero, técnico em ar condicionado, explicou que nesta oportunidade “não irá votar”.

“Estamos cansados. Votamos e ficamos com a sensação de que perdemos o voto. Isso não nos satisfaz. Pensamos que acontecerá uma coisa e acontece outra (os resultados são outros)”, disse.

Este venezuelano acredita que o país “retrocederá” se durante os próximos seis anos continuar a ser governado pelo Presidente Nicolás Maduro.

“Como Presidente, o país ficou-lhe grande (excedeu a sua capacidade), com este Governo, esta situação económica, em que não se consegue nada (há escassez de produtos), estamos retrocedendo”, frisou.

Por outro lado, Trina Herrera, licenciada em letras pela Universidade Central da Venezuela, já tomou a decisão de “não votar, porque não são umas eleições”.

“Nunca fui a favor da abstenção, em nenhum processo eleitoral, é a primeira vez que não vou votar. Estou convencida de que votar seria ser cúmplice de uma farsa. Já forma muitos os processos em que nos deixámos enganar, sabendo que o sistema eleitoral não é transparente, que está organizado para que os resultados sejam favoráveis ao Governo”, disse.

Por outro lado, disse acreditar que “a sociedade está desorientada” porque “é um evento organizado pelo Governo nacional (venezuelano), por uma Assembleia Constituinte que é ilegítima, com poderes que não foram legitimados pelo povo e isto para mim não são umas eleições”.

“Vou-me embora do país (para o Uruguai). É uma decisão que tomei há alguns meses. Felizmente há muitos países que são solidários com os emigrantes venezuelanos. Os meus sonhos sempre estiveram na Venezuela. É uma situação forçosa. Boa parte da minha família também está fora do país e pelas condições humanitárias”, disse.

“Acredito que as crises são momentos de oportunidades, mas quando a vida está em risco pela insegurança, pela falta de condições na saúde, podemos ter dinheiro e não ter onde ser atendido, isso nos obriga a emigrar. Enquanto as condições não forem favoráveis a um câmbio, que é urgente, e necessário, isto não é um país para viver”, declarou.

Trina Herrera explicou ainda que o Uruguai lhe outorgou residência permanente e que parte da sua família já está nesse país.