País

Investigadoras portuguesas ajudam crianças emigrantes a compreenderem a ciência

FOTO Shutterstock
FOTO Shutterstock

Investigadoras portuguesas, que vivem actualmente em Londres, desenvolveram um projecto que visa “transmitir a ciência e o trabalho da comunidade científica no estrangeiro”, através da língua nativa, a crianças e jovens emigrantes, contou hoje a cofundadora.

“Eu e alguns investigadores portugueses começamos a ter noção de que os meninos portugueses nas escolas de Londres eram os piores com aproveitamento escolar e pensamos que era bom levar a ciência feita por portugueses aos meninos emigrantes”, contou Joana Moscoso, cofundadora do projeto “Native Scientist”, à margem do 7.º Fórum Anual de Graduados Portugueses no Estrangeiro - GraPE, que decorre durante o dia de hoje, na Associação Empresarial de Portugal, em Leça da Palmeira.

Em entrevista à Lusa, Joana Moscoso revelou que o projecto, iniciado há cinco anos, tem como principal foco “dar a oportunidade” e aumentar o acesso à ciência no seio das crianças e jovens que, uma vez no estrangeiro, acabam por desvalorizar a sua língua nativa.

“Nós que estamos lá fora, temos sempre o sentimento de como é que podemos devolver a Portugal o investimento que é feito em nós. E, participar nesta actividade, em particular, fez-nos sentir isso, que podemos continuar a contribuir para Portugal, ajudando a formar estes lusodescendentes”, explicou.

Segundo a responsável, este programa, “centrado nas crianças e jovens”, permite ainda que o multilinguismo seja aceite por todos e “fazer a ponte” entre a ciência e os investigadores, que conseguem que o seu trabalho “tenha impacto a nível social” .

“O trabalho científico é muito técnico e por vezes os investigadores têm uma enorme dificuldade em comunicar. Por isso, treinamos ‘online’ os cientistas, para que estes saibam comunicar com as crianças na sua língua não dominante, que é aquela que falam na escola”, frisou.

Actualmente, o “Native Scientist” abrange mais de 1200 crianças, por ano, e trabalha com 200 cientistas, todos em regime de voluntariado, em seis países europeus: Reino Unido, Irlanda, França, Alemanha, Holanda e Noruega.

“Abrangemos estes seis países, mas 55% da nossa actividade é em português. Para já, fazemos actividades em 10 línguas diferentes, sendo uma delas o árabe”, revelou.

O projecto está por isso dividido em dois ‘workshops’, um dedicado a crianças entre os seis e 12 anos, onde os cientistas vão às escolas promover a ciência, a língua de herança e a ambição, e outro, dedicado a adolescentes que promove a ida a museus e a laboratórios de investigação.

“Este é um projecto que está a crescer de forma orgânica, ou seja, o trabalho é maioritariamente voluntário e são os cientistas que gostavam de colaborar connosco que acabam por nos procurar para saber como podem lecionar no país estrangeiro onde estão”, frisou.

À Lusa, Joana Moscoso revelou ainda que entre este e o próximo ano lectivo, as investigadoras portuguesas prevêem inaugurar o projecto em Lisboa, com workshops direccionados à comunidade polaca residente em Portugal.

“Falta-nos afinar o projecto, porque até ao momento era uma ‘prova de conceito’, mas a partir de agora, estamos prontas para assumir e definir uma nova estratégia para os próximos cinco ou 10 anos. A verdade é que já provamos que conseguimos fazer acontecer e ter impacto quer na comunidade científica, quer na vida destas crianças”, acrescentou a cofundadora.