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António Vitorino diz que é preciso mudar percepção negativa sobre migrantes

Foto EPA/Noufal Ibrahim
Foto EPA/Noufal Ibrahim

A percepção negativa que a opinião pública tem dos migrantes é um dos principais problemas que a Organização Internacional das Migrações enfrenta actualmente, afirmou hoje o seu presidente, António Vitorino, garantindo que a realidade é muito diferente.

“É preciso lidar com a percepção de que estamos a assistir a uma invasão”, defendeu António Vitorino na conferência “Perspectives on Migration: Political Action and Civic Engagement -- Portuguese-German Forum” (Perspetivas sobre as Migrações: Ação Política e Compromisso Cívico -- Fórum Portugal-Alemanha), a decorrer no ISCTE -- Instituto Universitário de Lisboa.

Segundo referiu, a tendência para migrar tem vindo a aumentar e vai continuar a crescer, sendo que “60 a 70% dos migrantes não passam as fronteiras de forma legal”.

No entanto, sublinhou o responsável da Organização Internacional para as Migrações, “80% dos africanos que migram fazem-no para outro país africano”.

Estes números são uma demonstração de que “a percepção, sentida muito na Europa, de que estamos a lidar com uma invasão do Sul para o Norte está muito longe da realidade”, afirmou.

O Norte do planeta enfrenta as mesmas dificuldades no que concerne às ondas de migração que o Sul, garantiu António Vitorino, lembrando os graves problemas nesta área enfrentados por países como o Quénia, a Nigéria, o México ou a Venezuela.

O sentimento de rejeição que se estendeu a todo o mundo provém, de acordo com António Vitorino, de dois factores: o 11 de setembro nos Estados Unidos, que levou as pessoas a associarem a migração ao terrorismo, e a onda de migrantes de 2015, quando só a Alemanha recebeu cerca de um milhão de pessoas.

“Sejamos francos. Nos anos 90 também tivemos cerca de um milhão de pessoas a migrarem para a Europa por causa do desmembramento da Jugoslávia” e, na altura, a reacção “foi completamente diferente”, lembrou.

“O que foi diferente é que, certo ou errado, a opinião pública teve a percepção de que os governos perderam o controlo”, explicou.

A mudança desta percepção vai depender muito das forças que estiverem no Parlamento Europeu, depois das eleições, e do exemplo dado por países moderados em relação aos migrantes, como são os casos de Portugal e da Alemanha, defendeu Vitorino, instando os políticos a deixarem de “ser tímidos”, já que “estão em causa princípios e valores fundamentais”.