Crónicas

Incomodamos? Ainda bem!

1. Disco: dos Lisbon Underground Music Ensemble o fantástico “L.U.M.E.”, um jazz a roçar um quase jazz-punk, se é que a expressão sequer existe. Um caos organizado a soar muito bem.

2. Livro: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se” escreveu Fernando Pessoa. “A Ofensa”, de Ricardo Menéndez Salmón é um desses livros. Um espanhol a escrever as aventuras e desventuras de um alemão, durante e depois da II Guerra, não é habitual. No fundo, é de destino que fala. De um destino que nos puxa e empurra para o que ele for, para o que representa.

3. Prometi, e escrevi-o numa destas crónicas, que, apesar das minhas responsabilidades partidárias, iria tentar referir-me ao meu partido o mínimo possível. Hoje tenho de falar, com as minhas desculpas, da Iniciativa Liberal, por dois motivos que serão os pontos seguintes.

4. Já aqui há uns tempos, nas páginas deste Diário, saiu uma reportagem sobre o “mobbing”. O ”mobbing”, não envolvendo, na maior parte dos casos, violência física, não é mais do que um tipo de bullying, só que exercido no local de trabalho.

A pressão exercida sobre as pessoas é psicológica e procura causar dor e angústia àquele que dela é vítima. É um claro abuso de poder e as consequências disto são violentíssimas e duradoras.

Sempre ouvimos dizer que, ao nível governamental, esta prática existe. É sintoma de coerção de liberdade, de menorização da democracia, de violação de direitos humanos.

Ter opinião, não é um crime é uma obrigação. Manifestar essa opinião, com lisura e educação, é um direito que todos nós temos e nos fóruns que entendermos, sejam eles partidários ou não.

E o processo é subtil. Muitas vezes vem sobre a forma de um, aparentemente, inofensivo conselho. Sub-repticiamente, insinua-se a necessidade da discrição partidária sob pena de as coisas deixarem de correr bem.

Há “mobbing” que persegue quem quer combater a mediocridade, sobre quem quer mudar a modorra em que vivemos fazendo com que, usando criteriosamente todos os recursos disponíveis, tenhamos mais e melhor. Despertam a inveja do medíocre e este não descansa enquanto não os cala, não os trava.

A Iniciativa Liberal tem os seus casos de “mobbing”. Casos de pessoas que nos vêm pedir, quase, para “passarem à clandestinidade”, para serem dispensados de aparecer, de dar a cara por uma coisa em que acreditam. E fazem-no para não serem prejudicados.

E isso irrita-me. Pior, isso enoja-me.

São estas maneiras de gerir a coisa pública, de estar na política, que a Iniciativa Liberal quer mudar. É para isso que trabalhamos. Para que todos tenhamos mais liberdade política, económica e social que nos leve a uma mais responsável autonomia política, económica e social.

Porque estamos fartos disso tudo, queremos uma Madeira mais livre. Teremos isto como sinais de que estamos a incomodar.

No momento certo e no local certo, teremos em conta estes tipos de comportamento.

5. O segundo assunto tem a ver com um título e subtítulo da peça jornalística saída neste matutino. O título diz que “Liberal sugere a entrega de cirurgias aos privados”. Eu não gosto de maniqueísmos nem de tentativas de pôr na boca das pessoas o que não foi dito ou escrito. O título desta notícia pode ser apelativo, mas não diz tudo. O que está no texto, apresentado pela IL com um conjunto de propostas para a saúde e o bem-estar, é o que a seguir se transcreve: “reforçar o orçamento para recuperação de listas de espera cirúrgicas e fazer a sua gestão correcta e transparente. Fazer um levantamento profundo de modo a ter uma ideia real das listas, segmentando-as nas suas diferentes valências: cirurgia programada, cirurgia de ambulatório, pequena cirurgia, cirurgia recorrente e cirurgias que exijam a utilização das salas de bloco. Se necessário, estabelecer protocolos com os privados de modo a acelerar a recuperação das já referidas listas de espera”. O que não é, de todo, o mesmo que o título indica.

O subtítulo é mais um aproveitamento incorrecto do texto e resultado da ausência do autor na Conferência de Imprensa. Até dou de barato que se possam encontrar no texto mais umas três ou quatro propostas que estão lá inseridas, dentro de uma lógica que implicava o estar presente para ouvir o que se tinha para dizer, onde foi deixado muito claro que este documento é participativo e, como tal, o que agora é 10 pode acabar por ser 1000. Venham muitas e boas ideias que cá estaremos para as acolher...

Aproveito para deixar aqui que vamos apresentar documentos numa série de áreas como, por exemplo, a educação, o mar, o desporto, a administração pública e reforma administrativa, a cultura, a agricultura, o turismo, a economia, as finanças, a mobilidade e transportes, o vinho, a floresta, etc., e que estas propostas, logo que apresentadas, deixam de ser nossas e passam a ser de todos. A lógica do “fui eu que apresentei primeiro” ou “fui eu que disse primeiro”, não terá eco por estas bandas. Aqui, não entramos no jogo infantil do medir a pilinha. Estamos na política para apresentar propostas que devem ser discutidas por todos, pois são feitas com o sentido de serem achegas para a resolução dos problemas que nos afectam, nas mais diferentes áreas, e não para aumentar a confusão.

Se encontrarem coisas que estejam erradas digam-nos, debatam connosco o que acham ser a incorrecção e convençam-nos disso. Estaremos sempre prontos para admitir o erro e o que é o melhor para todos, venha isso de onde vier.

6. Estive para escrever, toda a crónica, sobre a “cafofada” que foi o aproveitamento da Manifestação de Apoio ao Povo da Venezuela. Ainda comecei, mas depois cansei-me. Era dar demasiada importância à politiquice barata.

7. Aqui fica a minha encriptação da semana:

Martim Moniz terá sido um nobre cavaleiro que lutou com heroísmo, durante o cerco à cidade de Lisboa, ao lado das forças cristãs, sob o comando de El-rei D. Afonso Henriques. Ao perceber o entreabrir de uma porta no Castelo dos Mouros, atacou-a individualmente, sacrificando a vida ao atravessar o seu próprio corpo no vão da mesma, como forma de impedir o seu encerramento pelos defensores.

Esse gesto heróico permitiu o tempo necessário à chegada e o acesso dos nobres companheiros que, assim, conseguiram penetrar no castelo, conquistando em definitivo aquela que, mais tarde, se viria a tornar a capital deste canto da Europa.

Chama-se a isto ter coragem. Martim Moniz sabia ao que ia. Sabia que dava a vida por uma causa, por uma ideia, que nos permite hoje sermos o que somos.

Como eu gosto de pessoas assim! Com a coragem de ir até ao fim, de se afirmarem, de peito aberto, contra o que querem derrotar.

8. Entre D. Quixote e Sancho Pança prefiro claramente o primeiro? Mas no final não são os Panças, sempre, quem ganha?

9. “Mamadou Ba (...) está coberto de razão: numa sociedade liberal a liberdade de expressão permite que ele insulte a polícia mas esta o proteja se ele se sentir ameaçado. É esta a sociedade em que quero viver: onde o Estado cumpre a sua função, mesmo para aqueles que podem não gostar do que o Estado faz. É pena que o BE e outros alucinados não percebam isto, mesmo quando o que defendem lhes morde o rabo!” – Sérgio Loureiro.