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Saudades do futuro

Há várias maneiras de vender um produto. Uma é marcar pela diferença, primar pela qualidade e ter a certeza que se controla o maior número possível de variáveis de forma a assegurar-se que o produto final corresponde aos anseios do mercado que se pretende alcançar.

Outra é fazer o mesmo que toda a gente faz, e apostar em marcar a diferença pelo preço, ou a segurança, ou a acessibilidade, ou seja o que for. Esta opção, mais simples, funciona enquanto somos o único a fornecer um serviço nestas condições. Assim que surgem outros fornecedores a oferecer o mesmo da mesma maneira, surgem os problemas.

Ao longo dos últimos anos temos tido uma procura saudável (em termos de quantidade, pelo menos), aproveitando uma série de factores que afectaram negativamente os nossos principais concorrentes (insegurança, ou percepção de insegurança, que é o mesmo).

Mas ao longo deste mesmo período, fomos canalizando investimos para a opção fácil, esquecendo que os problemas dos outros não duram para sempre. Neste momento, estão em conclusão ou em projecto uma série de novos hotéis que consubstanciam essa opção. Não preparamos o destino para uma quebra na quantidade dos turistas que nos procuram.

Não fizemos a diferenciação que nos permitiria assegurar o mesmo rendimento com menos visitantes. Nunca demos a atenção devida ao que nos diziam os visitantes da Madeira, que se queixavam de excesso de construção, de ruído e de falta de cuidado com a natureza e com as florestas.

Neste momento já se assiste à primeira quebra de procura. Tímida, ainda, e envergonhada. Os operadores apontam para o aeroporto, mas será mesmo que alguém acredita que o problema é mesmo este? Sempre aprendi que se houver procura ao preço certo, vai aparecer quem ofereça o serviço. O problema é que habituamos os nossos clientes ao baratinho, e não há margem para isso.

E este é, neste momento, o maior problema do turismo da Madeira. O de termos criado a percepção que a Madeira era um destino barato.