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Protestos contra e a favor de Maduro marcam domingo na fronteira com Brasil

Foto REUTERS/Ricardo Moraes
Foto REUTERS/Ricardo Moraes

O segundo dia de tentativas para executar o plano de entrega de ajuda humanitária à população da Venezuela, na fronteira com o Brasil, ficou marcado por conflitos e protestos protagonizados por críticos e apoiantes de Nicolás Maduro.

Ao final da manhã de domingo, manifestantes venezuelanos contra o Governo de Maduro realizaram um protesto na cidade de Pacaraima, que teve episódios violentos como um incêndio e danos num posto de guarda do Exército da Venezuela, bem como ataques com pedras.

Os membros da Guarda Nacional Bolivariana, que estão na região para impedir a passagem de veículos e pessoas na fronteira, que está fechada por ordem de Maduro desde sexta-feira, responderam com recurso a veículos blindados e bombas de gás lacrimogéneo.

No auge da tensão, os militares venezuelanos chegaram a posicionar dois veículos blindados no marco das bandeiras, ponto simbólico que separa a Venezuela do Brasil.

Embora a passagem esteja formalmente fechada, a reportagem da Lusa conseguiu ver e falar com brasileiros e venezuelanos que cruzaram a fronteira por caminhos alternativos.

O brasileiro Gabriel de Oliveira, de 24 anos, que mora em Caracas e foi da Venezuela para o Brasil na manhã de domingo, contou que não foi impedido pelos soldados de passar até Pacaraima.

“Passei por caminhos alternativos para chegar até aqui hoje [domingo]. Vim de carro até à linha da Venezuela e andei depois quinze minutos. Os soldados venezuelanos mostraram-me um caminho atrás de um morro para passar até à linha do Brasil”, relatou.

Já o venezuelano João Victor Pinheiro da Silva, de 23 anos, contou que caminhou sete quilómetros num caminho que sai da comunidade de Santo Antonio, na Venezuela, e era usada por contrabandistas de combustível para desviar-se do Esquadrão e da Cavalaria montada do Exército da Venezuela.

“Vim de táxi até à comunidade e depois caminhei sem medo, porque já estou habituado a fazer este trajeto. Há muita tensão, moro em Pacaraima, tenho muitos amigos brasileiros que estão aterrorizados”, contou.

Ao final da tarde, a tensão voltou à região quando centenas de apoiantes de Maduro foram até à fronteira entre os dois países hastear a bandeira da Venezuela.

Escoltados por um guindaste e um camião, os manifestantes favoráveis ao Governo de Maduro hastearam novamente a bandeira da Venezuela na fronteira, que tinha sido retirada durante protestos de manifestantes venezuelanos que apoiam o Presidente interino autoproclamado, Juan Guaidó.

Após cantarem e hastearem novamente a bandeira venezuelana no monumento das bandeiras que divide aquele país do Brasil, os apoiantes de Maduro retiraram-se do local.

Toda a ação foi acompanhada pelo Exército brasileiro, que não fez nenhum tipo de intervenção.

Nas proximidades da fronteira estavam também, neste momento, manifestantes antichavistas que vivem em Pacaraima.

Eles acompanharam o ato a uma certa distância, vaiaram e insultaram os seus conterrâneos, gritando por diversas vezes que iriam libertar o seu país do Governo de Maduro, classificado por eles como um Presidente usurpador.

A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando Juan Guaidó se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos do Presidente Nicolás Maduro.

Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.

Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.