Mesmo com medo venezuelanos saíram à rua para “apoiar o parlamento” e “lutar pela liberdade”
Mesmo com medo, milhares de venezuelanos concentraram-se hoje na Praça Alfredo Sadel, leste de Caracas, para apoiar os deputados que viram a sua imunidade parlamentar levantada pelo governo, mas também para reafirmar a luta pela liberdade.
“Tenho medo, mas tenho mais medo de continuar a viver em ditadura. Por isso estou determinado a continuar a lutar pela liberdade do meu país”, disse um manifestante à Agência Lusa.
Para Randol Virgüez o levantamento da imunidade dos parlamentares opositores, “é mais um sinal de que na Venezuela há um sistema autoritário, uma ditadura”.
“Estamos a viver em ditadura, num país onde não há Estado de direito, onde levantam a imunidade parlamentar dos deputados que, segundo a Constituição, não podem ir presos, pelas acusações que um governo usurpador está a fazer”, disse.
Dirigente juvenil, este venezuelano justifica que “é por isso” que está nas ruas a apoiar a Assembleia Nacional, “os que estão asilados, os presos e os que viram levantada a imunidade parlamentar”.
“Nós, os jovens representamos a mudança, a esperança para uma nova Venezuela, (somos) os que reconstruiremos o país e traremos ventos de liberdade”, frisou.
Segundo Randol Virgüez a manifestação de hoje teve ainda como propósito manter de pé a luta e condenar a “usurpação” da função de Presidente da República.
“Nicolás Maduro está nesse lugar e ninguém votou por ele. Juan Guaidó é o Presidente legítimo da Venezuela, segundo o artigo 233 da Constituição (...) o que aconteceu em 20 de maio (de 2018) foi uma simulação eleitoral, porque não havia condições na Venezuela para eleições. E isso já está ‘verificado’ pela comunidade internacional e pela Assembleia Nacional que é o único poder legítimo que está na Venezuela”, disse.
Por outro lado, Olga, 80 anos, recusou a dizer o apelido por temer que seja facilmente identificada pelos ‘coletivos’ (grupos de motociclistas armados afetos ao regime).
“Vim porque Guaidó convocou uma concentração e estou horrorizada porque está aqui menos gente. Nas vezes anteriores as pessoas chegavam até à Avenida Miranda (dois quilómetros de distância)”, disse.
No entanto insistiu que hoje não tem mais medo do que “há apenas três dias” quando esteve em Altamira em apoio ao líder opositor e a um grupo de militares de que declararam apoio a Juan Guaidó.
“Estou muito preocupada, não sei exatamente o que estão a querer fazer. Temo que queiram fazer desaparecer a Assembleia legítima, para ficar com a Assembleia Constituinte”, frisou, adiantando estar ainda preocupada porque quando precisa de algo ou não tem dinheiro ou tem dinheiro, mas não há o que necessita.
Humberto Avelino Rara, instrutor de “artes marciais e guerra” a funcionários da Guarda Nacional (polícia militar), quis enviar uma mensagem ao Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre o dinheiro que a Venezuela reclama, por estar retido no Novo Banco.
“Quero dizer ao presidente de Portugal que (o Presidente venezuelano) Nicolás Maduro não está a distribuir comida e medicamentos porque diz que o dinheiro está retido em Portugal. Esperamos que Portugal dê uma resposta, mas eu acho que isso é mentira, porque esse homem (Nicolás Maduro) é o rei das mentiras”, disse.
O manifestante afirmou ainda que o Presidente venezuelano diz também que tudo o que está mal “é culpa dos gringos, mas isso é mentira”.
“A mim já me ameaçaram, mas eu já ando com pistola. Eu não tenho medo. Apenas temo o Todo Poderoso”, frisou.
Numa cadeira de rodas, Mary Moreno, 50 anos, afirmou que mesmo sem poder caminhar, sempre que pode manifesta-se contra o regime.
“Vim hoje e todas as vezes que for necessário cada vez que haja uma convocatória porque quero recuperar o meu país. Quero um novo país, que saíamos desta tirania o mais rápido possível”, disse.
“Estou a fazer um tratamento em que (os medicamentos) vêm do estrangeiro porque aqui não se consegue, mas isso não me impede continuar a lutar pelo meu país. Tenho fé e esperança que isto vai acabar. Talvez não seja hoje ou amanhã, mas por isso venho lutando desde há vários anos”, concluiu.