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Eurodeputado Paulo Rangel integra delegação europeia que vai avaliar crise na Venezuela

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O eurodeputado Paulo Rangel chega este domingo à Venezuela integrado numa delegação do Partido Popular Europeu que pretende fazer, no terreno, uma avaliação da realidade política e humanitária daquele país, mas também da situação da comunidade portuguesa.

“O nosso objetivo é de facto ter bastante informação e uma informação mais detalhada sobre a situação no terreno”, referiu hoje à Lusa, em declarações via telefone, o também vice-presidente do grupo parlamentar do Partido Popular Europeu (PPE) e um dos promotores desta delegação, que também integra, entre outros elementos, os outros dois vice-presidentes, o espanhol Esteban González Pons e a holandesa Esther de Lange.

Para tal, segundo Paulo Rangel, a delegação deste grupo parlamentar (o maior grupo político do Parlamento Europeu), que estará na Venezuela até terça-feira, já tem encontros confirmados com todos os grupos parlamentares com representação na Assembleia Nacional (parlamento venezuelano) e com o presidente daquele órgão legislativo e autoproclamado Presidente interino venezuelano, Juan Guaidó.

O encontro com Guaidó está agendado para terça-feira.

“Também pedimos um encontro com responsáveis do governo [do Presidente Nicolás] Maduro. (...) O ‘feedback’ que tivemos foi apenas este: havia disponibilidade de princípio, mas estava sob avaliação”, disse Rangel.

Na segunda-feira, na agenda da delegação estão marcados contactos com embaixadores de Estados-membros da União Europeia (UE), com a embaixadora da UE em Caracas, a portuguesa Isabel Brilhante Pedrosa, e com algumas organizações não-governamentais, cujo trabalho está focado na área dos Direitos Humanos e da liberdade política.

Questionado sobre os aspectos prioritários desta deslocação, o eurodeputado social-democrata destacou a situação humanitária no país e a importância de ouvir as organizações que estão no terreno, para depois perceber “como é que [a crise] pode ser gerida, da forma mais eficaz possível e que seja menos indutora de tensões”.

“Sabemos que existe também alguma paixão enunciada em volta da ajuda humanitária, de parte a parte, e o que nos interessa é que ela possa chegar onde é estritamente necessária, em condições que não criem tensões a ninguém”, reforçou Paulo Rangel.

O governo venezuelano tem insistido em negar a existência de uma crise humanitária no país e tem dito que não permitirá a entrada de ajuda na Venezuela.

A ajuda humanitária fornecida pelos Estados Unidos, que inclui alimentos e medicamentos, está retida atualmente na cidade fronteiriça colombiana de Cúcuta.

A par da avaliação política da atual situação venezuelana, outro aspecto que a delegação do PPE pretende desenvolver é, segundo Paulo Rangel, um “lado pedagógico democrático”.

“A posição do Parlamento Europeu (PE) e do PPE é amplamente conhecida. Obviamente que vamos fazer pedagogia também sobre ela. (...) Entendemos que uma transição deveria ser feita de modo justo, livre e que dê garantias para todas as partes, também para aqueles que nós não reconhecemos como poder legítimo, mas que obviamente (...) deviam ter todas as condições, para poder participar num processo eleitoral futuro e se tiverem o apoio do povo, evidentemente virem a assumir a responsabilidade na sequência desse processo”, prosseguiu.

A dia 31 de janeiro, o PE reconheceu Guaidó como Presidente interino legítimo da Venezuela, à semelhança da maioria dos países da UE, e na sequência da posição assumida pelos Estados Unidos.

Paulo Rangel indicou ainda que uma das suas prioridades nesta deslocação será também a comunidade portuguesa, existindo diligências para contactos diretos com os portugueses e com os lusodescendentes residentes na Venezuela, estimados em cerca de 300 mil.

O eurodeputado admitiu, no entanto, que a agenda da delegação também irá depender da situação no terreno, ao nível da segurança.

“É um dos aspectos que tem sido mais marcado pelas várias entidades que temos contactado. Que era preciso realizar esta deslocação com determinadas condições de segurança e, portanto, obviamente também vamos respeitar esse pedido”, concluiu.

A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.

Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.

A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de janeiro provocou já 40 mortos, de acordo com várias organizações não-governamentais.

Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados das Nações Unidas.