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EUA dizem que acusações de narcoterrorismo contra Maduro e plano de transição são questões separadas

Elliott Abrams elogiou a atitude de Portugal para com a Venezuela.
Elliott Abrams elogiou a atitude de Portugal para com a Venezuela.

O representante especial norte-americano para a Venezuela frisou hoje que as recentes acusações de narcoterrorismo feitas pelos Estados Unidos contra Nicolás Maduro são uma questão “separada” e “diferente” do plano de transição democrática proposto por Washington para aquele país.

“As acusações contra [Presidente venezuelano] Maduro são uma questão separada e a proposta que estamos a apresentar é para a Venezuela como país, para a sociedade da Venezuela”, afirmou Elliott Abrams durante um ‘briefing’ telefónico, em que a agência Lusa participou, dedicado ao Plano de Transição Democrática proposto na terça-feira pela administração dos Estados Unidos (EUA) para a Venezuela.

O representante especial respondeu desta forma quando questionado sobre a possibilidade destas acusações, feitas pelo Departamento de Justiça norte-americano em março, serem envolvidas num eventual futuro processo negocial.

Elliott Abrams lembrou que o Departamento de Estado “faz negociações políticas”.

O Departamento de Justiça norte-americano acusou, em 26 de Março, o Presidente da Venezuela e 13 pessoas do seu círculo mais próximo de narcoterrorismo e de conspiraram com rebeldes colombianos para “inundar os Estados Unidos de cocaína”.

Durante o ‘briefing’ telefónico, o representante especial disse que a rejeição de Nicolás Maduro ao plano de transição proposto por Washington era “previsível”, admitindo, porém, acreditar que possa vir a existir no futuro uma possível abertura negocial em outros ramos do regime de Caracas.

“A rejeição imediata por parte de Nicolás Maduro foi óbvia e era previsível. Nós já sabíamos que iria acontecer. (...) A pergunta agora é o que poderá acontecer nas próximas semanas. (...) Durante o tempo em que as pessoas na Venezuela ponderam sobre a proposta”, referiu.

Os Estados Unidos apresentaram, na terça-feira, um Plano de Transição Democrática para a Venezuela estabelecendo que o Presidente eleito, Nicolás Maduro, e o autoproclamado Presidente interino, Juan Guaidó, se afastem para permitir que um Conselho de Estado Plural prepare a realização de eleições presidenciais nos próximos meses, tendo como contrapartida o fim das sanções económicas internacionais contra o regime de Caracas.

O Governo venezuelano de Maduro recusou no próprio dia o plano dos EUA, já a oposição, liderada por Juan Guaidó, apoiou a iniciativa norte-americana.

“O que é realmente importante não é aquilo que eles dizem em público, mas o que acontece em privado, no governo, no movimento e no regime chavista, nas forças armadas, quando analisarem a proposta, o que pode significar para a Venezuela, e para eles próprios”, disse.

E Elliott Abrams prosseguiu: “Receio que a outra opção num futuro próximo seja a continuação desta terrível situação na Venezuela e, na verdade, talvez o seu agravamento”.

O representante norte-americano lembrou, por exemplo, a recente recusa por parte do Fundo Monetário Internacional (FMI) de um pedido de empréstimo feito pelo Governo de Maduro.

“Se o regime de Maduro permanecer é previsível que exista um agravamento nas condições económicas e sociais na Venezuela. É por isso que esperamos que exista uma troca de mensagens (...) em todos os ramos do regime, que sugira que existe uma oportunidade, uma abertura concreta para a Venezuela de participar e identificar soluções para os seus problemas”, referiu.

Elliott Abrams falou também sobre o plano anunciado, na quarta-feira, pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, e pelo Departamento da Defesa, de esforços militares adicionais na zona do Caribe e do Pacífico oriental para travar as actividades de narcotráfico.

“Sabemos que estas actividades prosseguem” mesmo em plena pandemia do novo coronavírus e esta operação “pretende travar que elas continuem”, disse.

Questionado sobre uma eventual interferência da Venezuela contra estas operações, o representante especial disse que seria insensato por parte das forças venezuelanas ponderar tal situação, reforçando que Donald Trump está determinado em impedir a utilização do Caribe “como caminho, rota para a entrada de narcóticos nos Estados Unidos”.

Ainda sobre o plano de transição, que frisou ser em defesa de uma “abertura política, pacífica e democrática” na Venezuela, Elliott Abrams admitiu, em caso de existir uma abertura negocial de todas as partes, que a Igreja ou a Noruega (país que foi anfitrião de negociações no ano passado em Oslo e nos Barbados) seriam fortes possibilidades para a condução de um processo negocial.

As reacções internacionais ao plano proposto pelos EUA têm vindo a surgir. Por exemplo, a União Europeia (UE) disse, na quarta-feira, que acompanhou “com muita atenção” as propostas de Washington de “uma via para o fim da crise na Venezuela” e que irá estudar “cuidadosamente” as medidas e “avaliá-las nos próximos dias”.

Já a Organização de Estados Americanos (OEA) anunciou, na terça-feira, que apoia a proposta norte-americana, indicando que o plano apresentado constitui uma “proposta válida para uma solução para sair da ditadura usurpadora e recuperar a democracia no país”.

Também Portugal, que conta com uma significativa comunidade de portugueses e de lusodescendentes na Venezuela, reagiu ao plano norte-americano, saudando esta solução política e lembrando a sua urgência, perante a atual crise sanitária global provocada pela pandemia de covid-19, que está a afectar igualmente e gravemente a sociedade venezuelana.

A Venezuela, país que conta com cerca de 32 milhões de habitantes, enfrenta um clima de grande instabilidade política, situação que se soma a uma grave crise económica e social.

A crise venezuelana agravou-se desde janeiro de 2019, quando o opositor e presidente da Assembleia Nacional (parlamento), Juan Guaidó se autoproclamou Presidente interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Cerca de 60 países, incluindo a maioria dos países da UE, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como presidente interino da Venezuela encarregado de organizar eleições livres e transparentes naquele país.

A crise já levou ao êxodo de quase cinco milhões de venezuelanos, segundo dados da ONU.

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