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Curaçao diz que ajuda humanitária à Venezuela só será entregue após autorização de Caracas

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A ilha de Curaçao, nas Antilhas holandesas, disse hoje que a ajuda humanitária destinada à Venezuela atualmente estacionada naquele território só será entregue após uma autorização de Caracas.

“Nenhuma ajuda irá sair de Curaçao para a Venezuela de maneira restrita”, declarou o governo daquele território, localizado a cerca de 65 quilómetros a norte da costa venezuelana.

“As remessas a partir de Curaçao só serão feitas quando as autoridades venezuelanas concordarem. Enquanto isso, a ajuda será armazenada”, indicou a mesma fonte.

Um avião proveniente de Miami com 50 toneladas de alimentos e de medicamentos a bordo enviados por venezuelanos residentes nos Estados Unidos aterrou na quinta-feira em Curaçao.

Esta carga faz parte do dispositivo de ajuda que a oposição venezuelana, liderada pelo presidente da Assembleia Nacional (parlamento) e autoproclamado Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, prometeu fazer entrar no sábado (dia 23 de fevereiro) no território venezuelano, apesar da recusa do Presidente contestado Nicolás Maduro.

“A ajuda humanitária vai entrar, sim ou sim (de qualquer maneira), o usurpador terá que ir-se (embora), sim ou sim, da Venezuela”, afirmou, na semana passada, o autoproclamado Presidente interino.

A entrada de ajuda humanitária, especialmente os bens fornecidos via Estados Unidos, no território venezuelano tem sido um dos temas centrais nos últimos dias do braço-de-ferro entre Guaidó e Maduro.

A vice-Presidente venezuelana chegou a afirmar que a ajuda humanitária fornecida pelos Estados Unidos “é cancerígena” e vai envenenar aqueles que a consumirem.

O governo venezuelano tem insistido em negar a existência de uma crise humanitária no país, afirmação que contradiz os mais recentes dados das Nações Unidas, que estimam que o número atual de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo situa-se nos 3,4 milhões.

Só no ano passado, em média, cerca de 5.000 pessoas terão deixado diariamente a Venezuela para procurar protecção ou melhores condições de vida.

Esta semana, Maduro decidiu encerrar indefinidamente a fronteira marítima e aérea com Curaçao, Aruba e Bonaire, suspendendo as ligações aéreas e marítimas com estes territórios.

O líder venezuelano, que também ordenou na quinta-feira o encerramento da fronteira terrestre com o Brasil e ameaçou avançar com a mesma medida em relação à Colômbia, afirmou que se viu obrigado a tomar esta atitude em relação às ilhas caribenhas porque estava a ser “preparada uma provocação”.

“Quero dizer ao povo de Aruba, Bonaire e Curaçao, quero as melhores relações, mas com respeito. Queremos as melhores relações, fluentes, de comércio, de turismo, de fraternidade, mas com respeito. É pedir muito?”, afirmou esta semana o líder venezuelano.

Na semana passada, a Holanda anunciou que ia criar em Curaçao um centro logístico de ajuda humanitária à população da Venezuela, projeto que estava a desenvolver em colaboração com Guaidó e com os Estados Unidos.

“O povo venezuelano precisa de ajuda humanitária”, escreveu, na altura, o ministro dos Negócios Estrangeiros holandês, Stef Blok, na rede social Twitter.

“É por isso que a Holanda e Curaçao decidiram facilitar a criação de um centro de ajuda humanitária em Curaçao, em estreita cooperação com o Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, e com os Estados Unidos”, reforçou, na mesma ocasião, o ministro holandês.

A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando Juan Guaidó se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.

Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de janeiro provocou mais de 40 mortos e cerca de mil detenções, incluindo menores, de acordo com várias organizações não-governamentais e o parlamento venezuelano.

A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.

Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.