Madeira

Perda de maioria absoluta pela primeira vez é cenário eleitoral na Madeira

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As próximas eleições legislativas regionais na Madeira serão “muito particulares”, colocando-se pela primeira vez a possibilidade de o PSD falhar a maioria absoluta e “todos os cenários de poder são possíveis”, considera o sociólogo madeirense Ricardo Fabrício.

“As próximas eleições regionais vão ser muito particulares, não só porque vão colocar em confronto duas personalidades que pela primeira vez se vão encontrar nesse embate”, disse o também professor universitário à agência Lusa, perspectivando as eleições agendadas pelo Presidente da República para 22 de Setembro do próximo ano.

Defendendo que “esse embate vai decorrer num contexto que é único”, o docente argumenta que este acontece “num período particularmente traumático” que os madeirenses passaram desde 2011 e 2012, enfrentando o desemprego, insolvências, entre outros problemas.

“Um conjunto de dramas que tiveram também uma correspondente demográfica”, enfatiza, apontando que esta situação influenciou um “fenómeno de erosão da população activa jovem”, com menos de 35 anos, que deixou a região em número significativo.

Também considera que “há um contexto propicio ao acertar de contas, não por via directa”, mas, sobretudo, por parte dos que viram os seus familiares partirem “e, do ponto de vista geracional, podem ter uma motivação extra para considerar outras possibilidades políticas”.

Para Ricardo Fabrício, “do ponto de vista da geografia eleitoral” existe “uma questão também bastante interessante, que é verificar até que ponto esse fenómeno de erosão que se verificou nos últimos anos”.

O sociólogo adianta que os “emigrantes que retornaram vão ter influência”, embora esteja por apurar “se aqueles que vieram de contextos estrangeiros estão em condições de exercer o direito ao voto”.

O docente considera que terá interesse saber “até que ponto estas mexidas e estes traumas, que são inegáveis, vão ter reflexo do ponto de vista da disponibilidade eleitoral”.

No seu entender, existe “um substrato iminentemente social que pode fazer com que as eleições possam ir num sentido ou noutro”.

Outro aspecto que espera analisar “é ver como o PSD, que ao longo de todas estas décadas” manifestou capacidade de “aglutinar um conjunto de actores e forças para viabilizar vitórias, vai conseguir ou não o fazer” agora.

O sociólogo complementou que, tendo em conta que a nível nacional, nos últimos quatro anos, resultou uma governação feita por uma coligação, também “fica por esclarecer até que ponto essa experiência pode chegar à região”.

Mas, o professor salienta que a Madeira “é um território favorável ao PSD” e “o eleitorado madeirense não é muito arrojado”.

“Fica também por esclarecer” se o “fenómeno autonómico” continua a “encontrar no eleitor a disponibilidade para a viabilização” quando as pessoas estão “confrontadas em termos de ‘timing’ político com uma série de decisões que também têm permitido ao PSD recuperar um pouquinho do fôlego que estava a perder”.

Indicou também a influência de questões como as disputas relacionadas com “o hospital, o navio, todos estes emblemas grandes que são manipulados do ponto de vista da operação política”, acabando por ser “um atractivo para viabilizar um determinado sentido de voto”.

Contudo, Ricardo Fabrício sustenta que uma mudança de cenário político “nunca foi tão real como agora” na região, visto que “a oposição na Madeira sempre concorreu a regionais sem poder exibir o exercício de um cargo ao mais alto nível”.

“Neste momento, o projecto alternativo [encabeçado pelo actual presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo] tem essa possibilidade e isso, do ponto de vista do eleitor, tem impacto”, vincou.

Porém, argumentou que o PS vai a eleições com um candidato que “o faz de forma independente”, algo que coloca “muito ses”, reforçando que “o histórico dos socialistas na Madeira também mostra que o partido é uma realidade relativamente instável, é periclitante ao longo do tempo”.

O professor acredita que “os eleitores têm de estar à espera de todas as geometrias disponíveis relativamente à formação de poder tanto para um lado como para outro”.

Para Ricardo Fabrício, “tudo será jogado, todas as cartas disponíveis serão utilizadas e nesse sentido não haverá jogadas impossíveis, desde que sejam exequíveis e exista vontade das partes”.

As últimas eleições legislativas regionais realizaram-se em 29 de Março de 2014, tendo o PSD da Madeira conquistado a sua 11.ª maioria absoluta consecutiva neste tipo de ato eleitoral, as primeiras sem a liderança do carismático Alberto João Jardim.

O PSD/Madeira, pela primeira vez liderado por Miguel Albuquerque, alcançou 44,33% dos votos e conquistou 24 dos 47 deputados eleitos, menos um do que nas eleições anteriores.