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O mundo a preto e branco

Entramos numa era de bipolarização. Os bons e os maus identificam-se de acordo com a perspetiva. Os valores e os princípios fundamentam-se nas ideologias de quem tem o poder. Parece que só há dois lugares, a favor e contra de cada um dos lados.

É assustador a forma rápida e fácil como a sociedade global tem vindo a aceitar este esquema de funcionamento, defendendo lideranças narcisistas que promovem ódios e vingança.

Questiono como chegamos aqui em tão pouco tempo e quanto tempo vai demorar para quebrar este ciclo. Até lá, vamos observando dia após dia as consequências deste paradigma que tem na base a destruição.

As guerras, os genocídios, os crimes por ódio ou conflito de convicções, são uma constante, legitimada pela nova lógica do preto e branco.

Se gerações mais maduras aderiram tão facilmente a este enquadramento, o que dizer dos mais jovens. Estamos perante uma cultura totalmente diferente daquela que nos ligou durante muito tempo. A solidariedade, a empatia, o respeito pela diversidade, são valores que os líderes da linha da frente não comungam, pelo contrário rejeitam e incitam à anulação de quem ainda os defende. A continuar assim estamos a regredir para tempos e lugares que ficaram marcados na história por tudo o que era inaceitável e desumano. A verdade é que esse tempo tornou-se atual e legitimado pelos líderes e pelo povo, que em crescendo o querem de volta.

Eu diria que entramos num ciclo de autodestruição humanitária cada vez mais difícil de conter. Somos co-responsáveis por termos chegado aqui e continuamos a sê-lo na forma de continuar a educar para valores e princípios dignos de uma sociedade justa e digna. Reflexão sem ação é pouco. A ação terá de ser abrangente, firme e segura. Este mundo a preto e branco não nos serve, disso eu tenho a certeza.