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Madeira: a panela de pressão

A voz popular que assenta no empirismo dos sentidos, começa a relatar sem pruridos, que temos um excesso de turistas e da sua carga na nossa ilha. Negar isso é uma desonestidade intelectual, por muito que as autoridades regionais mantenham enterrada a cabeça no buraco. A vida dos locais inferniza-se, quer na mobilidade, quer no simples disfrute das belezas a que outrora prazenteávamos, e na verdade também a daqueles que nos visitam, atirados a um turbilhão de gente para onde quer que se desloquem.

O destino Madeira vulgarizou-se no sentido mais pejorativo do termo, por muito troféu martelado que consigamos sacar. Quando me aventurei a viajar, há anos, tinha a ideia mais ou menos formada, de que eu era um pelintra, quando comparado com os turistas que nos visitavam. Essa ideia decorria porque a maior parte da minha família paterna somou gerações no turismo na Madeira e no exterior. Atualmente, por aquilo que vemos nos nossos espaços públicos mais inusitados, constato que recebemos visitantes muito mais pelintras do que eu. Mas, mesmo os pelintras, contam e agregam estatísticas que acomodam a narrativa que interessa efabular.

E em tudo, há um filão de ouro a ser avidamente explorado. É no AL edificado a custos controlados, são os apetites dos privados nas concessões dos percursos, é a carraria desenfreada das “Rent a Car” que entopem a ilha, e as taxas turísticas das pernoitas nos cruzeiros e alojamentos.

Se os locais se queixam do entupimento do trânsito, diz o governo que é um “bom” problema. Para quem, e até quando?

A única porta de entrada da ilha - o aeroporto, (pois o mar é só para os porta-contentores do monopólio consentido), exibe cada vez mais as suas fragilidades na sua operacionalidade, devido aos ventos. Nessas alturas em que os passageiros se amontoam no chão, os governantes deixam aquela jaleca fluorescente no cabido, e nem se aproximam da infraestrutura. O tal “plano de contingência” mantém-se num mito que El-Rei D. Sebastião trará em mãos, juntamente com aquela “plataforma” do subsídio social de mobilidade gizada pela nata dos “nerds” do Vale de São Francisco, tal é a complexidade planetária dessa empreitada tecnológica, que determinará um antes e um depois no domínio da Inteligência Artificial.

Por isto e sobretudo pela veleidade de nos tomarem por parvos, creio que estamos a acumular tensões que seriam desnecessárias, se doseassem a avidez com mais equilíbrio, ou sequer bom senso, mas, não é isso que observamos.

Apesar da nossa mobilidade dentro e para fora da ilha estar comprometida, na ótica governamental, são os transportes TVDE que têm de ser refreados, para proteger à boa maneira soviética apenas o sector dos táxis, contrariando uma economia liberal.

Este desequilíbrio em ser ultraliberal nuns assuntos e ultraconservador noutros, denota uma falta de rumo, uma navegação errática e como tal, não inspira confiança.

A minha ilha é uma “panela de pressão”. Como sempre, só a alguns chega o cozido.