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Trump e os Tecnolibertários

A presença dos presidentes executivos das maiores empresas tecnológicas na cerimónia de tomada de posse de Donald Trump não pode ser interpretada como um mero gesto protocolar. É um sinal claro da aposta estratégica no setor tecnológico norte-americano, com especial ênfase no domínio da Inteligência Artificial (IA), considerada como vetor central da competitividade global. Neste contexto, o Vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, durante o seu discurso na Cimeira de Ação sobre IA, realizada em Paris, destacou a IA como um instrumento crucial para o poder económico e militar norte-americano.

No segundo mandato de Trump, os tecnolibertários afirmam-se como uma força política em ascensão, exercendo influência significativa na política externa dos EUA. Por um lado, a administração Trump tem como prioridade consolidar a hegemonia tecnológica dos EUA, reconhecendo o papel preponderante das grandes empresas tecnológicas estadunidenses neste esforço. Por outro, apesar da retórica dos tecnolibertários, em defesa de um ecossistema de inovação livre da intervenção estatal, estas empresas dependem, cada vez mais, do apoio governamental para salvaguardar os seus interesses.

Neste sentido, a legislação da União Europeia, em particular as normas relativas aos Mercados Digitais, Serviços Digitais e à Inteligência Artificial, representa um desafio regulatório significativo para as empresas tecnológicas norte-americanas. De facto, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, classificou a Lei dos Serviços Digitais como uma barreira tarifária às empresas norte-americanas, ilustrando as tensões crescentes entre Washington e Bruxelas no domínio tecnológico.

Outra leitura deliberada promovida pela administração Trump assenta na convicção de que a China poderá capitalizar as restrições regulatórias aplicadas à inovação tecnológica no Ocidente, para ganhar terreno na corrida pelo desenvolvimento de sistemas de IA mais avançados. Neste contexto, a desregulamentação é encarada como o principal instrumento político ao dispor do governo de Trump para acelerar a competitividade tecnológica e evitar um eventual desequilíbrio face à liderança emergente de Pequim.

Em suma, a estreita relação entre o setor tecnológico e a administração Trump reflete uma estratégia para assegurar a supremacia dos EUA na esfera da IA, considerada vital para a competitividade e segurança nacional. Apesar das tensões regulatórias internacionais e da concorrência chinesa, o reforço da influência dos tecnolibertários e a adoção de políticas de desregulamentação evidenciam a determinação de Washington em manter a sua liderança tecnológica e geopolítica num mundo em rápida transformação.