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Crónicas

Resgatar os aeroportos?

É preciso investir muito por muito tempo. A Vinci não vai investir porque não recupera

Pela segunda vez, na Autonomia, a Madeira precisa dispor dos seus dois aeroportos na tutela do governo regional.

Na primeira vez liderei o processo da respectiva regionalização, que culminou com a sua transferência em 1980. Era forçoso ter o comando regional no processo de ampliação do aeroporto da Madeira. A vontade da ANA era nula e o governo de Lisboa pouco empurrava. Vivíamos entre o caos pós-25 de Abril e a aurora da Autonomia. Vencemos e agarrámos essa tutela determinante no processo da expansão da pista.

Sem que se encontre justificação racional, o governo de Alberto João Jardim/ PSD aceitou a mais estúpida cedência perante o governo nacional de Pedro Passos Coelho/ PSD. Ainda hoje Jardim não suporta Coelho.

Alberto João Jardim entregou à ANA, por 50 anos, os aeroportos da Madeira e do Porto Santo a troco de 85 (oitenta e cinco) milhões de euros, que ajudaram a pagar dívidas a fornecedores da saúde regional resultantes de uma gestão financeira irresponsável, mais outros 30 (trinta) milhões correspondentes à sua quota parte na dívida da ANAM. Era o tempo de gastar sem ter como pagar. Apanhados em ruptura de tesouraria, envolvidos na turbilhão da dívida oculta, entretanto descoberta, e na monstruosidade da dívida pública regional, Alberto João Jardim não teve “estaleca” política para impedir o assalto aos nossos aeroportos.

Estávamos de cócoras, pelos erros e abusos da gestão política regional. Éramos mal vistos em Lisboa. Credibilidade zero. Vivíamos a noite negra da Autonomia: mandados pelo governo de Lisboa que nos desprezava e amarrava à canga da TROIKA e da ditadura financeira.

Nenhum preço justificava a cedência dos aeroportos. São estratégicos e preciosos na conjuntura complexa dos nossos transportes aéreos. Eram sagradas. E perdemo-los para gestão alheia.

Para além de tudo, aceitámos 105 milhões, que são 4,2 % do valor pago pela Vinci ao Estado (2.500 milhões), quando temos 7,8 % dos passageiros em Portugal. Ou seja, devíamos ter recebido quase 200 milhões de euros e foram-nos dados, e aceites, metade.

Mais que um negócio desastroso, como a maioria naquela época, foi realizada uma cedência de infra-estruturas aeroportuárias que agora impede a tomada de decisões absolutamente indispensáveis ao normal funcionamento dos aeroportos.

Já ouviram ou leram opinião da Vinci sobre como ultrapassar o nosso constrangimento aeroportuário? Tem plano de médio e longo prazo? É do conhecimento do governo regional? Que eu saiba, a única atitude tomada pela empresa francesa foi distribuir colchões para que os passageiros se amanhem enquanto hóspedes das aerogares.

Por contrato de concessão a Vinci estava obrigada a actualizar, até 2022, o terminal de passageiros do aeroporto de Porto Santo. Desta obrigação apenas se teve a patética presença do ministro socialista João Galamba em Porto Santo para a falsa apresentação de um eventual projecto do novo terminal. Nada se viu ou soube e o ministro não questionou.

Na Madeira o aeroporto há muito exige melhoria. Rapidamente, com o alojamento local, passámos de trinta mil camas para o dobro. Mas, no aeroporto, continua tudo na mesma.

Os novos radares parecem que levarão dois anos a acertar a sua fiabilidade. Inaceitável.

A verdade é que há que investir e muito. Desde logo, temos de encontrar forma de amenizar os inconvenientes, nomeadamente custos adicionais, que recaem na operação aérea deficiente que temos. Via Porto Santo, ou não, há que ter solução mitigadora para os próximos cinquenta anos. Em Porto Santo é necessário mais estacionamentos de aeronaves, novo terminal de passageiros e sistema ágil de transportes marítimos, para pessoas e bagagens, para Santa Cruz. Aqui uma infraestrutura marítima de apoio ao aeroporto será mais útil que gastar dinheiro a ampliar a Pontinha.

Uma grande parte dos divergidos vão ser, de algum modo, protegidos.

A longo prazo, não é possível suportar as instabilidades que frequentemente afectam o aeroporto Cristiano Ronaldo. Para um arquipélago que vive do turismo e tem vontade de investir no aumento de qualidade do seu parque hoteleiro e turístico precisa encontrar solução duradoura para cómoda e segura mobilidade aérea. Não podemos estar à espera de novo acidente para procurar novas soluções.

Não será muito arriscado apontar para o mar como o local onde porventura exista solução técnica adequada. Lembro que na decisão de ampliar Santa Catarina estavam outras treze soluções possíveis. Mais uma no mar sul da Madeira. O Paul da Serra ficou sempre para futura avaliação dependente das evoluções tecnológicas. Certo, certo é que levará sempre tempo. Mas a Madeira é eterna. O turismo também. Como está é que não se pode perpetuar. É preocupante.

E ninguém acredita que a Vinci vá investir o dinheiro necessário tanto numa solução transitória como numa outra tecnicamente mais estruturada e definitiva.

Os franceses não são responsáveis pela nossa deficiência aeroportuária. Porventura não a avaliaram de forma rigorosa. Foi tudo no pacote. Ao que dizem, do melhor negócio alguma vez feito por uma empresa com o estado português. Não dava para questionar e empatar.

Mas também não dá para ficar tudo na mesma. Sem turismo seremos miseráveis. É preciso pegar o boi pelos cornos. Este assunto, sem dúvida, justifica uma taxa de turismo para suportar custos obrigatórios nos transportes aéreos.

A Vinci luta pelos seus lucros como empresa. Investe em espaços comerciais e mais nada. Na Madeira será difícil conseguir lucros. É preciso investir muito por muito tempo. Nunca os conseguirá recuperar nos 40 anos de concessão que restam.

Não me parece difícil abordar uma saída vantajosa para todas as partes. Para nós será sempre um problema. E indispensável pegar nele.

A solução parece única: resgatar os nossos aeroportos e liderar tudo o que houver a fazer para salvar o turismo. E, em simultâneo, proporcionar segurança e conforto à mobilidade aérea dos residentes. Assim, como está, não é vida!

Hospital a blocos

Não resisto a deixar registo público, porque há muito falei a quem de direito. Impressiona-me o novo hospital ser forrado a blocos. Estive internado em dois novos hospitais em Lisboa, ambos totalmente envidraçados, onde se pode observar a vida exterior de pessoas, carros, aviões, comboios, navios, sol, chuva, etc. Dá força a quem está acamado e frágil. Reparo que o nosso novo hospital fechou as suas paredes a blocos com aberturas mínimas. Fica localizado num belo anfiteatro que podia proporcionar distração fantástica a quem for obrigado a ali permanecer. Uma coisa é certa: não foi para poupar, face ao elevado custo no muro de pedra aparelhada que ornamenta as traseiras da infra-estrutura.

Autarcas

Parece cada vez mais evidente questionar que viagens já realizaram os nossos candidatos. Que mundo conheceram para olharem para as soluções que precisamos nas nossas autarquias? É currículo obrigatório conhecer. Que “mundo” têm?

Árbitros

Quando prenderem um árbitro para exemplo tudo melhorará. É esta roubalheira que a Liga insiste?