Crianças felizes
Há países que acreditando no benefício de medidas que assegurem tempo de qualidade dos pais com filhos nos primeiros anos de vida, estimulam e favorecem essa opção. São países desenvolvidos com foco nas áreas da educação e da saúde, privilegiando a o crescimento saudável das crianças e o bem-estar da população.
Atualmente em Portugal quem governa pensa diferente. Obcecados pela ideia de andarem a ser enganados por mulheres mães que fingem amamentar para trabalhar menos horas e assim produzirem menos nos seus locais de trabalho, decidiram generalizar algumas situações particulares reduzindo a relação das mães com os seus bebés e crianças pequenas ao leite da mama.
É muito triste olhar para esta falsa questão e perceber a confusão que envolve um governo que com tanta corrupção à solta está muito preocupado com as mães que supostamente mentem sobre a alimentação dos seus filhos. Se o leite vem da mama ou do biberão, se já comem ou não sólidos, e se valerá a pena integrar as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens numa fiscalização que no limite, quem sabe, poderá afastar os filhos das suas mães/famílias. Com que objetivo?
Quem trabalha na área da saúde mental com crianças, jovens, e famílias em dificuldade, situações tão frequentes em Portugal, rapidamente entende a insensatez desta medida e a aparente ignorância face aos graves problemas reais.
Um país que se quer desenvolvido, onde crianças chegam às creches antes das 8h da manhã e regressam a casa depois das 20h, enfiadas em transportes públicos, irrespiráveis e barulhentos, ao colo dos pais exaustos de um dia de trabalho mal remunerado, com a responsabilidade de chegar a casa dar banho aos filhos, alimentá-los com o que houver e pô-los a dormir, tão tarde quanto possível para acordarem, tão cedo quanto são obrigados, é um país subdesenvolvido, em sofrimento com graves problemas sociais. É assim que as nossas crianças devem crescer?
Crianças felizes, a crescer saudavelmente junto das suas famílias, precisam de relação. Tempo para acordar entre sorrisos, tempo para descobrir os alimentos, tempo para brincar, tempo para adormecer sem pressa, tempo para mamar. Ter a possibilidade de ter os pais por perto, nos primeiros anos de vida não é apenas um privilégio, é um direito que todas as crianças e as famílias deveriam ter.
A amamentação pode, por opção, ser um dos primeiros momentos da relação entre mãe e filho, mas não é único, exclusivo e obrigatório. Obrigatório é que as mães e os pais tenham tempo de qualidade para crescer com os seus filhos e juntos construírem lugares mais saudáveis e seguros para viver.