A Igreja é a Comunidade
No passado dia 19 de julho assinalou-se o centenário do lançamento da primeira pedra da igreja paroquial de São Roque do Faial. Foi um dia para relembrar tempos passados, mas também para olhar para o futuro. Os testemunhos, de diferentes gerações, evidenciaram a importância do templo não só no fomento da fé, mas principalmente na construção da comunidade.
O Concílio Vaticano II recordou ao mundo católico que a Igreja, antes de ser um edifício, é uma assembleia viva, um povo congregado pelo Evangelho e pela esperança — e esta comemoração deixou claro que assim é em S. Roque do Faial.
Mas os lugares também são importantes: marcam a paisagem, unem gerações e oferecem um ponto de referência a quem parte e a quem fica. José António Dória, antigo emigrante no Brasil, recordou que, apesar de ter passado mais de 40 anos longe da sua terra, ainda guarda memórias e histórias ligadas à igreja. No livro dedicado à emigração de São Roque do Faial — O regresso dos que nunca partiram — encontram-se muitos relatos de quem partiu e nunca deixou de olhar para São Roque do Faial como o seu “centro”, mesmo com todas as geografias alteradas pela distância. Não precisamos de teorias para sentir isto. Quem emigra sabe que, nas horas de aperto, muitas vezes, “volta mentalmente” à sua igreja de origem.
Os testemunhos sucederam-se, e a contribuição da Missão Comunidade das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria na freguesia foi amplamente reconhecida. Pela voz da irmã Josefina Silva, foi recordado o papel dinamizador que tiveram na pastoral, na animação litúrgica, na catequese, na alfabetização, na saúde, no ensino e na promoção social. Este testemunho fez-me viajar até à minha infância, recordando tantas vivências moldadas pela presença das irmãs.
A realidade de São Roque do Faial é comum a muitas freguesias do norte da ilha, que tiveram — e ainda hoje têm — a igreja como referência de comunidade, uma referência que vai muito além da fé. As instituições de S. Roque do Faial, tanto a Junta de Freguesia como a Casa do Povo, têm feito um trabalho notável na preservação da memória e também na projeção do que pode ser o futuro para os poucos jovens que ainda permanecem na terra. Mas não podemos deixar de reconhecer o papel central da Igreja na coesão desta comunidade.
Ao celebrar o centenário da igreja paroquial de S. Roque do Faial, celebramos a fidelidade dos nossos antepassados – dos que ficaram e dos que partiram, dos que a levantaram e dos que a mantém viva.
Que cada um de nós possa ser, por sua vida e testemunho, uma pedra na construção desta casa aberta para todos.