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Um apelo à responsabilidade colectiva

Vivemos numa era marcada por profundas transformações e, simultaneamente, por desafios que ameaçam a estabilidade social, os direitos humanos e os valores que sustentam uma sociedade democrática e inclusiva. Nos últimos anos, assistimos a um aumento de acontecimentos mundiais que geram insegurança e instabilidade nas pessoas de todas as idades, especialmente nas gerações mais novas, cujo desenvolvimento e formação de valores estão em risco.

Um dos aspetos mais preocupantes é o avanço dos extremismos de direita, que promovem retrocessos de mentalidades e alimentam discursos de ódio, intolerância e discriminação. Essas ideologias, muitas vezes alimentadas por desinformação e pelo populismo – pegar nos descontentamentos sociais e políticos e dizer exatamente o que as pessoas querem ouvir –, contribuem para a desestabilização social, minando princípios fundamentais como a liberdade, a igualdade e o respeito pelos direitos humanos. A propagação de informações distorcidas sobre a igualdade de género, os direitos das minorias ou a diversidade ameaça criar uma narrativa de exclusão e segregação, prejudicando a formação de uma sociedade plural e justa.

Neste contexto, a violência, seja ela doméstica, escolar ou de género, assume dimensões alarmantes. O Conselho da Europa criticou Portugal recentemente por manter sanções demasiado brandas para os agressores em casos de violência doméstica, um sinal de que as medidas de prevenção e de proteção ainda não são suficientes para garantir a segurança das vítimas e para desencorajar comportamentos abusivos. A violência nas suas várias formas deve ser combatida de forma contundente, holística e contínua, promovendo uma cultura de respeito e de tolerância zero frente a qualquer ato de agressão.

Outro exemplo da degradação de valores é o anúncio vergonhoso antiaborto, pago pelo fundador da Prozis, quando a interrupção voluntária da gravidez foi consagrada pelo Parlamento Europeu em 2024 como um direito inscrito na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Este tipo de iniciativas revela uma tentativa de desvalorizar direitos conquistados com esforço pelas mulheres e com o apoio de muitos homens, reforçando a necessidade de uma educação que promova a compreensão e o respeito pelos direitos humanos, incluindo o direito à autonomia e à saúde reprodutiva.

Num mundo cada vez mais influenciado pela desinformação, o papel da educação e da informação responsável torna-se crucial na formação de gerações capazes de resistir às tentações do discurso de ódio e de promover valores como a inclusão, a tolerância e a solidariedade. É fundamental que as pessoas adultas, as instituições e a sociedade civil assumam a responsabilidade de educar para a paz, a empatia e o respeito pelas diferenças, prevenindo a violência antes que ela se manifeste e criando ambientes seguros para o desenvolvimento saudável das crianças e jovens.

A reflexão final é uma convocação à consciência coletiva: os direitos que hoje consideramos conquistados não podem ser dados como garantidos. É necessário que os governos aloquem mais apoios para as organizações que trabalham nestas áreas, para atuar em rede de forma mais eficaz na sua defesa e na Educação, combatendo a ignorância, as desigualdades e os discursos de ódio, para que as futuras gerações possam herdar um mundo mais justo, mais livre e mais humano. Afinal, o verdadeiro progresso reside na capacidade de proteger e valorizar a dignidade de todas as pessoas, independentemente da sua idade, género, origem ou etnia. Não podemos permitir que os avanços conquistados se percam por negligência ou por interesses que minam os princípios fundamentais de uma sociedade democrática. A responsabilidade é de todos/as nós: prevenir, educar e lutar por um futuro onde os direitos humanos sejam uma realidade constante e inalienável.