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Madeira

À espera do fumo branco

DIÁRIO nasceu em 1876 e ‘acompanhou’ 11 Conclaves. Esta quarta-feira, no Vaticano, os cardeais começam a eleger o sucessor de Francisco

O DIÁRIO assinala, no próximo ano, o 150.º aniversário. Neste século e meio de História, ‘acompanhou’ 11 conclaves. O Sacro Colégio, em rigor, pouco mudou desde então, embora contemple algumas alterações como aquelas que foram introduzidas por João Paulo II em 1996.

No geral, no entanto, o Conclave mantém todo o seu secretismo e expectativa por ver fumo branco a sair da chaminé instalada na Capela Sistina, no Vaticano. Esta quarta-feira, 7 de Maio, os Cardeais voltam a reunir, na Capela Sistina, agora para escolher o 267.º Papa da História. Em breve o Mundo voltará a ouvir a frase “Habemus Papam”, a anunciar o nome do novo Sumo Pontífice. E com o madeirense, Tolentino Mendonça, entre os elegíveis. Mas antes, recordamos os últimos 11 Conclaves, desde 1878, tinha então o DIÁRIO apenas dois anos de vida.

Se o Conclave pouco mudou na sua essência, a forma como recebemos e damos as notícias tornou-se bem diferente. O rigor é o mesmo, a velocidade incomparável. Da era dos telegramas e radiogramas até ao vertiginoso Mundo em ‘tempo real’ que hoje se vive. Do directo e do digital. Bem diferente do Conclave de 1878. Dessa vez, na Madeira, só se ficou a saber o nome no novo Papa uma semana depois e, claro, pelas páginas do DIÁRIO.

1878

Notícia chegou a bordo de um navio

O primeiro Conclave ‘acompanhado’ pelo DIÁRIO. O Papa Pio IX morreu a 7 de Fevereiro. A notícia saiu a 22 desse mês, precisamente no dia em que tocaram os sinos da Sé a anunciar a morte do Sumo Pontífice. Fecharam-se teatros e houve feriado nas repartições do Estado. O Rei D. Luís I “tomou luto por um mês, ordenando que a corte tomasse igual luto”. Por essa altura, na verdade, já tinha sido escolhido, na Capela Sistina, o sucessor de Pio IX. Foi a 20 de Fevereiro. Na edição de 27, o DIÁRIO deu a notícia, que chegou através do navio Dunrobin Castle, chegado ao Funchal às 23 horas da noite anterior. Tinha sido eleito o Cardeal Pecci, arcebispo de Perugia, com o nome de Leão XIII. Na época, notava-se a rapidez do Conclave. A escolha surgiu logo ao segundo dia. Mas só uma semana depois se soube na Madeira, pelas páginas do DIÁRIO.

1903

Tiro de meia em meia hora na fortaleza

O papado de Leão XIII durou 25 anos e 150 dias. Tempo suficiente para que as notícias se tornassem mais céleres. Por isso, o DIÁRIO noticiou a morte do Papa logo no dia seguinte (edição de 21 de Julho), deixando para dia 22 uma extensa explicação da doença e causas que vitimaram o Sumo Pontífice. Depois, o Conclave já teve amplo destaque. Dávamos a conhecer os modos de eleição e a forma de escrutínio. Entretanto, na Madeira, como sinal de luto pela morte de Sua Santidade, as bandeiras de fortalezas e quartéis estiveram a meia-haste. Da fortaleza de Nossa Senhora da Conceição (hoje mais conhecido como molhe da Pontinha), saiu um tiro de meia em meia hora pelo “serviço de guarnição”. E, reproduzindo fielmente a escrita da altura, “em todas as torres das egrejas (igrejas), parochiaes (paróquias) e recolhimentos, os sinos tocaram a finados”. Eleito a 4 de Agosto, os madeirenses souberam logo no dia seguinte (graças ao telegrama da agência Havas) que a escolha tinha recaído no então patriarca de Veneza, Giuseppe Sarto, que escolhera o nome Pio X.

1914

Guerra desvia atenção

A I Guerra Mundial começara sensivelmente um mês antes. As páginas do DIÁRIO já davam grande destaque ao conflito, daí que a morte de Pio X e respectiva sucessão tenha tido menos ‘mediatismo’. A morte do Sumo Pontífice, a 20 de Agosto, teve destaque na primeira página, mas nos dias seguintes as referências ao Conclave resumiram-se a pequenos textos ou até breves de poucas linhas. A 22 de Agosto anunciava-se a marcação do Conclave para 2 de Setembro. O cardeal italiano Domenico Ferrata era apontado como favorito. Mas enquanto as notícias sobre a sucessão do Papa surgiam amiúde, os efeitos da Grande Guerra já geravam forte preocupação. Finalmente, após vários dias sem qualquer notícia da sucessão, eis que é anunciada a eleição de Giacomo Paolo Giovanni Battista della Chiesa (Bento XV) num texto em que se contava, também, a história dos Bispos de Roma.

1922

Sinos tocam durante três dias

Bento XV liderou a Igreja Católica durante todo o período da I Grande Guerra (1914-1918), estendendo o pontificado até 1922, ano da sua morte. A 24 de Janeiro, o DIÁRIO destacava, na sua primeira página, a morte do Sumo Pontífice. Notícia que não surpreendeu, já que o telegrama anterior da agência Havas tinha dado conta do agravamento do estado de saúde do Papa. Uma semana antes, quando celebrava missa na capela de Santa Maria, já dera sinais de não estar bem. Desenvolveu pneumonia e faleceu dias depois. A primeira referência ao Conclave surge na edição de 4 de Fevereiro. A 5, um radiograma de Londres indicava apenas a continuação do Sacro Colégio. A 7, outro radiograma sem esclarecer. “Por enquanto ignora-se o resultado”. No dia seguinte, então, o anúncio de Pio XI (Ambrogio Damiano Achille Ratti) como novo Papa. E durante três dias, por ordem do bispo do Funchal D. António Ribeiro, os sinos tocaram em todas as igrejas da Madeira. “De manhã, ao meio-dia e ao fim da tarde”.

1939

Cerejeira foi apenas hipótese

É em 1939 que a morte de um Papa tem, pela primeira vez, amplo destaque na primeira página do DIÁRIO. A 10 de Fevereiro. “O mundo de luto”. Num ano que ficaria marcado pelo início da II Guerra Mundial, a morte de Pio XI torna-se, logo no segundo mês de 1939, num momento bastante marcante. Já se perspectiva o Conclave para ter início a 1 de Março. “Uma demora de 18 dias” para dar tempo para que os cardeais das origens mais distantes chegassem ao Vaticano. Por essa altura, o Conclave já despertava atenção. Olhavam-se para os prováveis sucessores. No Funchal “as bandeiras continuavam a meia-haste” e anunciava-se uma missa na igreja de São Pedro e outra na Sé “sufragando a alma” de Sua Santidade. Em Portugal, estamos em plena época do Estado Novo. A 14 de Fevereiro, era notícia a possibilidade de o Cardeal Cerejeira ser indicado como sucessor de Pio XI. O DIÁRIO destacava a informação publicada no DN Lisboa. A 20 o cardeal português chega a Roma. O Conclave começa às 17h05 de 1 de Março e a 2 o cardeal Pacelli torna-se Papa no dia do seu aniversário. Começa o pontificado de Pio XII.

1958

Conclave custa 11.750 contos

A 8 de Outubro de 1958, a notícia corre célere. O estado de saúde de Pio XII agrava-se. À redacção do DIÁRIO chegam telefonemas dos leitores, ansiosos por desenvolvimentos numa “atmosfera de angústia e consternação”. O Papa morre a 9 de Outubro. Às missas solenes na Sé, no Funchal, junta-se, por decisão do bispo do Funchal, Dom Frei David de Sousa, que os párocos façam “tanger os sinos” nas paróquias por toda a Região. O Conclave é marcado para 25 de Outubro, a partir das 15 horas. Em 1958, já se sabia mais pormenores sobre a reunião dos cardeais. “A Santa Sé gastará 11.750 contos com o funcionamento do próximo Conclave”, anunciava o DIÁRIO a 16 de Outubro. Informação proveniente do jornal italiano ‘La Stampa’. Os madeirenses, através do DIÁRIO, ficavam ainda a saber que “no recinto onde se reunirá o Conclave não poderão entrar máquinas fotográficas, gira-discos e telefonias”. A 26, um domingo, começa a eleição. “Calcula-se que seja eleito até terça-feira”. Ao primeiro dia sai fumo negro da Capela Sistina. Ao segundo dia também. Na terça, tal como previsto, é anunciado João XXIII (Angelo Giuseppe Roncalli) como Papa.

1963

O receio de nova guerra

“A vida do Sumo Pontífice está a apagar-se muito lentamente”, refere o DIÁRIO a 3 de Junho. A notícia da morte de João XXIII chega no dia seguinte. O Conclave é apontado para 19. Em plena Guerra Fria, revela-se que a “morte de João XXIII uniu pela primeira vez os países do ocidente e da cortina de ferro”, já que o luto chega, de forma sentida, a países como Hungria e Checoslováquia. Antes de morrer, de acordo com os relatos da altura, João XXIII mostrou receio pelo desencadear de um novo conflito mundial. Enquanto se realizam as exéquias solenes na Sé, no Funchal, em memória do falecido Papa, no Vaticano já se prepara o Conclave. Já na altura se apontam favoritos: o polaco Stefan Wyszynski e o belga Leo Jozef Suenens. Mas teria, ao contrário das últimas longas décadas, um cardeal não italiano a possibilidade de ser eleito Papa? O Conclave mostra que não. Na chaminé na Capela Sistina o fumo começa por sair negro a 19 de Junho. A 21 sim, o fumo branco indica a eleição de outro italiano, o Cardeal Montini. O Papa Paulo VI.

1978

Último Papa italiano

O Papa Paulo VI, com um pontificado de 15 anos e 46 dias, morre a 6 de Agosto de 1978. Na sequência de um ataque cardíaco. Já na altura, a Constituição Apostólica definia um prazo de 11 dias para eleger o Papa depois de reunido o Conclave. São novamente apontados dois cardeais italianos como favoritos: Pignedoli e Bassio. É um tempo ainda marcado pela Guerra Fria e, por isso, com o conflito militar constantemente iminente. Daí que, na altura, o cardeal Humberto Medeiros, nascido nos Açores, mas Cardeal Arcebispo de Boston, tenha lançado célebre frase: “Um Papa hoje em dia deve ser político”. A 25 de Agosto começa um dos Conclaves mais curtos da história. Apenas um dia. A 26 de Agosto sai fumo branco da chaminé na Capela Sistina. O cardeal Albino Luciani, também italiano, é eleito Papa. Adopta o nome de João Paulo I. O novo Sumo Pontífice assim se definia: “Um homem simples acostumado às pequenas coisas e ao silêncio”. Desde então, não voltou a ser eleito um Papa italiano.

1978

34 dias de Pontificado

Choque. João Paulo I morre a 28 de Setembro de 1978. Apenas 34 dias de Pontificado. É encontrado morto no “seu leito”, vítima de enfarte. Termina, de forma trágica, o segundo Pontificado mais curto da história (o mais curto foi em 1590, quando Urbano VII, nomeado a 15 de Setembro, morreu 12 dias depois). O funeral de João Paulo I é agendado para 4 de Outubro e logo começam os preparativos de novo Conclave. O segundo em pouco mais de um mês. Às previsões para novo Papa, junta-se a frase do Cardeal Bernardin Gantin, referindo que teria de ser italiano. Tinha sido assim nos 400 anos anteriores. Mas desta vez não foi. A 14 de Outubro é eleito Karol Józef Wojtyła, Cardeal polaco. Dois dias de Conclave mostram-se suficientes. Adopta o nome de João Paulo II.  Desde logo é apelidado como “o pastor vindo do Leste” da Europa. E diz-se , então, que tem muito em comum com o seu antecessor, João Paulo I. Por cá, o Bispo do Funchal, D. Francisco Santana, refere que o novo Papa “não foi escolhido por acaso”, referindo a eleição de um polaco “como a grande surpresa do Conclave”, o segundo de 1978, ainda em ‘era’ de Guerra Fria.

2005

Adeus, João Paulo II

Quando recebe a Extrema-unção, a 31 de Março de 2005, o estado de saúde de João Paulo II é já bastante frágil, como se via, aliás, nas suas últimas aparições perante a multidão na Praça de São Pedro. Morre a 2 de Abril. No Funchal, “sinos dobraram por João Paulo II”, noticiava o DIÁRIO. Foi o único Papa a visitar a Madeira. Em Maio de 1991 celebrou missa no Estádio dos Barreiros, perante milhares de madeirenses. No momento da sua morte, o espaço junto da sua estátua, então na Avenida do Mar (agora à entrada da Sé), encheu-se de flores, velas e mensagens. Na Sé, a 8 de Abril, milhares de pessoas participaram na missa de exéquias, em homenagem a João Paulo II, numa eucaristia presidida pelo então Bispo do Funchal. D. Teodoro de Faria, na ocasião, lembrava o entusiasmo do Papa por visitar a Madeira, recordando a viagem de 1991. No primeiro dia de Conclave, a 18 de Abril, o fumo preto indica que não há consenso entre os cardeais eleitores. Diz-se que quem entra Papa, sai cardeal, numa alusão às apostas que poucas vezes acertaram. Mas desta vez foi mesmo escolhido o nome apontado pela imprensa: Joseph Ratzinger (Bento XVI).

2013

Contra as previsões

Com quase 85 anos, o Papa Bento XVI resigna ao cargo a 11 de Fevereiro de 2013, após oito anos de Pontificado. O Conclave é marcado para Março. Há sete favoritos. Mas volta a confirmar-se a velha expressão: quem entra Papa, sai Cardeal. A eleição começa a 12 de Março. Mas ao primeiro dia só fumo negro na chaminé instalada na Capela Sistina, no Vaticano. Mas a 13 de Março já há fumo branco. A escolha recai no argentino Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos. Assume o nome Francisco. Pelas 19h20 surge perante a multidão na Praça de São Pedro. “Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma. Parece que os meus irmãos Cardeais o foram buscar quase ao fim do mundo”, declarou Francisco, com a boa disposição que o caracterizava. Quanto ao Conclave, também se diz que quando a decisão se torna difícil, os cardeais optam por um nome menos provável. Assim aconteceu com Jorge Bergoglio. Uma escolha que ninguém esperava. Francisco liderou a Igreja Católica até à sua morte, a 21 de Abril deste ano.