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A grande dor

Tinha já escrito uma coisinha, toda cuidadosa por se tratar de dia de eleições e, quando a fui reler, achei uma seca tão grande que apaguei e comecei de novo. O resultado provavelmente será o mesmo, menos no gasto de caracteres; aqui escrevi mais um bocadinho…

Sou dos que entende que precisamos de uma refundação. Não das que tantas vezes se fala, mas de algo mais profundo, que vá verdadeiramente ao âmago das questões, sem esconder nada por detrás de uma qualquer densa e incompreensível Lei.

Dou um exemplo: - penso que não há ninguém que diga que não a uma descida dos impostos. Atingimos, a este nível, uma obscenidade tal que penso só falta começar a taxar a quantidade de ar que respiramos. Mais IVA, claro!

O que responderia um qualquer cidadão se a contrapartida dessa descida fosse ter de começar a pagar por algo que antes era gratuito? Não há qualquer problema se o afectado for o vizinho ou outra classe profissional; a nós próprios é que não se pode tirar nada.

O mesmo acontece com o tema dominante desta campanha: - a habitação. Entre pérolas como sejam “se faltam casas, construímos mais”, assim mesmo, sem mais o quê, ouvi várias propostas, nenhuma a abordar o problema principal: - o preço da habitação está elevado também porque a carga fiscal representa cerca de 50% do seu custo.

Isto não sou eu que o digo; estou a repetir o que oiço dos especialistas na matéria, sendo que nesta percentagem se inclui tudo, desde o licenciamento ao IMI. Mas esta carga fiscal serve para alimentar gratuitidades várias…

Falar de reforma do Estado ou do facto de ele estar eventualmente muito bem assim é assunto para ser discutido! Quanto custa alimentar o Estado Social e qual a alternativa que pode existir, sem tabus e, sobretudo, sem argumentos do género “na Europa é assim”. E quanto custa essa alternativa, até do ponto de vista social, que também se consegue medir!

Volto à questão central e a algo que me parece ser o cerne. Existem vários caminhos, várias alternativas. Todas legítimas, com objectivos diferentes, também eles legítimos embora uns mais aceitáveis que outros, pelo menos na minha perspectiva. É a noção de que não há facilidades e que seja qual for o caminho escolhido, vai existir dor.

Enquanto andarmos entretidos a defender o nosso pequeno interesse, o nosso micro feudo, o nosso subsídio ou benesse, a corporação a que pertencemos, não chegamos lá. Nunca chegaremos!

Por tudo isto vou votar. Não em pessoas mas em ideias, em projectos. Ciente de que nenhum dos que li enche todas as minhas medidas. E, estranhamente ou talvez não, convicto que vamos ter muitas dores pela frente porque não temos coragem de tratar da respectiva origem. E que por isso elas vão aumentar…