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Explicador Madeira

Guerra comercial pode deixar Europa de pratos vazios

Aumento de 25% no preço do milho e soja pode afectar toda uma cadeia de produção

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A recente escalada na guerra comercial entre os Estados Unidos da América e a União Europeia (UE) ameaça ter repercussões significativas na segurança alimentar europeia... com impactos directos na mesa dos portugueses.

Após o anúncio do presidente norte-americano, Donald Trump, de impor tarifas sobre produtos europeus, Bruxelas retaliou com a aplicação de tarifas na ordem dos 25% em cerca de 1.700 produtos ‘Made in EUA’ que sejam enviados para a Europa - incluindo o milho e a soja.​

E é precisamente a imposição de tarifas sobre produtos desta categoria - milho e soja - que fez soar os alarmes, uma vez que os preços de vários produtos alimentares poderão disparar. É que estamos a falar de duas matérias-primas que são a verdadeira base das rações para animais.

No caso da soja, que é um dos produtos que Portugal mais importa dos EUA - 61% da soja triturada importada por Portugal vem do lado de lá do Atlântico, num valor que custa quase 137 milhões de euros - trata-se de um produto utilizado para, entre outras coisas, alimentar o gado.

Isto significa que o custo de produção associado a todos os produtos que tenham origem nas vacas, por exemplo, podem ficar mais caros. A lógica é simples: se custa mais 25% importar a soja, a ração de uma vaca vai ficar 25% mais cara. Esse aumento terá de se reflectir, naturalmente, no produto final. Não só apenas a carne, como também ovos, leite e todos os outros produtos derivados, neste caso iogurtes, queijo ou manteiga. Toda uma cadeia de produção ficará irremediavelmente comprometida.

Já no que diz respeito ao milho, a União Europeia já tinha previsto importar dos EUA cerca de dois milhões de toneladas de milho antes desta ‘guerra tarifária’. Ora, com o agravamento de preços à entrada das nossas fronteiras, na ordem dos 25%, como é intenção de Bruxelas, será natural que esse impacto acabe também por chegar à mesa.

Ainda assim, no caso do milho, a partir de Agosto, normalmente as necessidades do velho continente são asseguradas por alguns países da América do Sul mas, até lá, é a imprevisibilidade que irá prevalecer.

Whiskey? UE foi pressionada

O Bourbon escapou às contramedidas da União Europeia, depois de a França e Itália terem pressionado a Comissão Europeia, já que o presidente dos EUA ameaçou impor tarifas de 200% sobre vinhos e destilados se o whiskey americano fosse incluído.

Além do bourbon - para o qual a Comissão havia previsto uma tarifa de 50% - vinho e lacticínios também saíram da lista da União Europeia.

Cronograma das tarifas

As tarifas vão entrar em vigor de forma faseada. A 15 de Abril regressam as tarifas sobre o sumo de laranja, arandos e frutas e legumes frescos e enlatados originalmente impostas em 2018, no primeiro mandato de Trump como presidente norte-americano, e suspensas em 2021.

A 16 de Maio seguir-se-á o segundo pacote, onde se inclui a carne de bovino, chocolate branco, ovos, aves de capoeira vivas, óleos vegetais - como o óleo de girassol e de palma - margarina, bolachas, açúcar e citrinos.

Para 1 de Dezembro está programada a última ronda, desta feita com as tarifas sobre amêndoas com e sem casca e... a soja.