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Gente que construiu a revolução

Neste mês de Abril, este texto é sobre as pessoas que construíram a última revolução em Portugal.

A história de vida de Maria do Rosário Ramos vem do tempo da ditadura de Salazar e Caetano.

Nascida a 8/10/1955, Maria do Rosário é filha do povo das zonas altas do Funchal, dos operários e operárias que vieram de Santo António para trabalhar e morar junto às fábricas no centro do Funchal. O pai, António, pedreiro, e a mãe, Rosália, uma das muitas costureiras que cosiam as sacas de serapilheira, as sacas de açúcar, na “Casa Hinton”, no Funchal.

Dos 12 filhos que Rosália deu à luz, Maria do Rosário é um dos quatro que fizeram vida. 8 morreram à nascença. Era assim naquele tempo, na nossa terra.

Com 14 anos, Rosário foi para a fábrica. Era assim no nosso País. Como “bordadeira de tela”, Maria do Rosário, tornou-se operária na “Casa Supérbia”, no Funchal. Estávamos em 1969-1970. Já Marcelo Caetano substituíra Salazar.

Como operária das fábricas de bordado, Maria do Rosário passou a trabalhar na “Madeira House” e, depois, na “Gilberto Abreu”. Procurava-se quem pagava um pouco mais... Em vez dos anteriores 17 escudos semanais, na “Madeira House” passou a ganhar 25 escudos à semana.

... foi quando se ficou a saber que, em Lisboa, os Capitães de Abril tinham derrubado a ditadura. O marido da chefe da fábrica, que trabalhava no Tribunal, era pessoa bem informada. Então, o povo veio para a rua. Vieram as lutas, as manifestações e as greves. Conquistaram o direito aos 3.300 escudos como Salário Mínimo Nacional. Conquistaram o direito aos 21 dias de férias... era a revolução em movimento, em 1974. E lá estava a Rosário onde a revolução estava a fazer-se, no sindicato, na empresa, como delegada sindical, na rua, nas manifs, em cada palmo de direitos exigidos em cada reivindicação coletivamente desenhada.

Em 1974, naqueles dias, nasceria o dia mais feliz de todos os dias. A 22 de dezembro de 1974, nascera a Susana, a primeira filha, e a mudança de casa, a casa nova, naquele mesmo dia, para a Rua Nova de São Pedro, quando ainda não se esperava o nascimento. E tudo junto, a casa, o parto, a vida, a Festa – estávamos no Natal – Abril, a revolução, tudo, tudo se apressava na criação do novo.

Assim era na história de Maria do Rosário, assim acontecia na vida do povo. Assim se fazia a revolução. Com lutas. Com desencontros. Com conquistas.

À Maria do Rosário, como operária, como mãe coragem, como lutadora, sempre do lado da vida, na edificação de uma vida melhor, à Maria do Rosário saudamos, e nela às pessoas que fizeram a revolução, e expressamos a gratidão pela persistência e pela resistência, que é a do rosto feminino do povo desta terra.